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vivia pois este homem — homem que certo não era d’aquelles que vivem so de pão?

E este era dos poucos textos latinos que elle repettia, este o thema predilecto dos raros sermões que prégava: Non in solo pane vivit homo, Nem so de pão vive o homem.

Vivia então de alguma outra coisa este homem; e a meditação e a oração não lhe bastavam, porque elle sahia do seu convento e não ia prégar nem rezar... todas as sextas feiras era certo na casa do valle á mesma hora, do mesmo modo...

Alli estava pois alguma parto da vida do frade que de todo se não desprendêra da terra, e que, por mais que elle diga, lhe faltava castrar ainda por amor do ceo.

É que meio seculo de viver no mundo deixa muita raiz que não morre assim. E talvez é uma so a raiz, mas funda, e rija de fevra e de seiva, que as folhas morrem, os ramos seccam, o tronco apodrece, e ella teima a viver.

Saibamos alguma coisa d’essa vida.