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Deus! não é preciso: paraquê? Ella é cega, coitadinha, não sabes?’

— 'Cega, que dizes? minha avó está cega?'

— 'Pois não sabías? Ai! é verdade, não sabías. Tantas coisas que tu não sabes, meu Carlos! Mas eu te contarei tudo, tudo. Olha: cegou quando... Mas não fallemos agora n'essas tristezas que ja la vão. Em ella te sentindo aopé de si, é o mesmo que tornar-lhe a vista. Tem-m’o ella ditto muitas vezes, e eu bem sei que é assim. Mas ouve: um dia havemos de fallar — nós dois sos — á vontade: tenho tanto que te dizer... nem tu sabes... Agora vamos, Carlos.’

E fallando assim, tomou-o pela mão e sahiu para o valle aberto, froixamente acclarado ja de myríadas de estrellas scintillantes no ceo azul.