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— 'Porquê?'

— 'Por amor de ti, por escrupulos que lhe metteu na cabeça de tu seres mau christão, inimigo de Deus, que te não podias salvar... tu meu Carlos! Vê que cegueira a do triste frade.'

— 'Bem triste!'

— 'Mas olha que o diz de boa-fé e pelo muito amor que te tem... que é um amor que eu não intendo: e o mesmo é com minha avó, que treme deante d'elle. E mais elle estima-a, estou certa que dava a vida por ella... e por nós todos... por mim não tanto, mas por ti e por ella, dava decerto. Mas o seu amor é dos que rallam, que, apoquentam... quasi que estou em dizer que matam.’

— 'Matam, matam!'

— 'Nossa avó é elle que a mata decerto. Sempre a metter-lhe medos, sempre escrupulos! O seu Deus d'elle é um Deus de terrores, de vinganças, de castigos, e sem nenhuma misericordia. Oh! que homem! para elle tudo é peccado, maldade... Não o posso ver.’