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— 'Carlos!'

Iam a cahir nos braços um do outro... A singela confissão da innocencia ia ser acceita por quem e como, sancto Deus! Aquella palavra de oiro, aquella doce palavra que tanto custa a pronunciar á mulher menos arteira; que adivinhada, sabida, ouvida ha muito pelo coração, ditta mil vezes com os olhos, nenhum homem descança nem se tem por feliz, por certo de sua felicidade, em quanto a não ouve proferir pelos labios — essa palavra celeste que explica o passado, que responde do futuro, que é a última e irrevocavel sentença de um longo pleito de anciedades, de incertezas e de sustos — essa final e fatal palavra amo-te, Joanninha a pronunciára tam naturalmente, tam sincera, tam sem difficuldades nem hesitações, como se aquelle fosse — e era decerto — como se aquelle tivesse sido sempre o pensamento unico, a idea constante e habitual de sua vida.

O excesso da felicidade aterra e confunde tambem. Um momento antes, Carlos dera a sua vida por ouvir aquella palavra... um momento depois — oh pasmosa contradicção de nossa dupplice