Página:Viagens na minha terra, v1 (1846).pdf/49

Wikisource, a biblioteca livre
— 35 —

nas palpebras... Pouco lume que tenha nos olhos, pouco regular que seja o semblante, menos airosa que seja a figura, parecer-vos-ha n’esse momento um anjo. E anjo é a virgem modesta, que traz no rosto debuxado sempre um ceo de virtudes... — De alguma belleza sei eu cujos olhos côr da noite ou de saphyra (dialec. poet. vet.), cujas faces de leite e rosas, dentes de pérolas, collo de marfim, transas de ebano (a allusão é surtida, ha onde escolher) davam larga materia a boas grozas de sonetos — no antigo regimen dos sonetos, e hoje inspirariam myriadas de canções descabelladas e vaporosas, choradas na harpa ou gemidas no alahude. Comtanto que não seja lyra, que é classico, todo o instrumento, inclusivamente a bandurra, é egual deante da lei romantica.

Ora pois, mas a tal belleza, por certo ar ala-moda, certo não-sei-quê de atrevido nos olhos, de deslavado na cara, e de descomposto nos ademanes, perde toda a graça e quasi a propria formosura de que a dotára a natureza...

Vêde-me aquelles labios de carmim. Ha maio florido que tam lindo botão de rosa apresente ao