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Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/124

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o calçamento não era áspero... E eu ia ver um morto!

Tomamos o bonde no Largo de S. Francisco. O veículo ia cheio. Viajei comprimido, com volúpia, sofrendo aquele contato humano; dando-me bem ao absorver a maior porção de calor vital do meu semelhante próximo. Não estava só no mundo e toda aquela gente tinha que morrer, como eu..

O trem, também cheio. Na fila ao lado, em vis à vis, sentaram-se quatro sujeitos. Havia entre eles um gordo senhor com uma calva de sábio e uma barriga comercial e financeira. Era o mais tagarela. Não se cansava de falar, de criticar, de maldizer a polícia, o governo, os gastos deste, a vadiação dos deputados, dos funcionários públicos e a desonestidade dos juízes. Quando o trem se pôs em movimento, ele, dirigindo-se ao companheiro de defronte, pediu:

— Dá-me a tua A Notícia.

O outro respondeu, certo de que fazia espírito:

— Queres dar-me 200 réis por ela?

O vizinho ao lado do sábio — comendador, por aí —, tirou o mesmo jornal do bolso e passou-lh’o.

— Obrigado, agradeceu o de barriga de comendador