Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/128

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— Qual! O namoro é a negação do amor... Não me arrependerei...

— Garanto-te. Será uma emoção que te ficou por provar... Experimente já, enquanto é tempo...

E o trem continuava a correr. Na estação de nosso destino, saltamos, tendo trocado com o meu companheiro durante a viagem somente aquelas escassas palavras.

Nós fomos subindo a rua devagar, por entre curiosos exemplares de uns pais de família. Graves homens de fisionomia triste, curvados ao peso da vida, sobraçando alongados embrulhos de pão, caminhavam ao nosso lado com o passo tardo e econômico, poupado de velhos bois de carro. A estrada da vida era má; areenta, aqui; encharcada, ali; e, mais além, íngreme e empedrouçada... Só a paciência dele, só aquela rija musculatura que se gastava às gotas, só ela poderia levar avante o carro da mulher e dos filhos. Com o jornal debaixo do braço, iam ruminando grandes combinações de tostões, com certeza, com o mesmo gasto de energia nervosa que um banqueiro qualquer empregaria ao delinear uma grande especulação aladroada sobre os fundos de duas ou três potências. Insensivelmente, alinhavam-se em fila e fui vendo, à esquerda e à direita, longas teorias daqueles