Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/136

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— Quando?

— Quando alguns homens generosos tiverem feito toda a humanidade trabalhar de um mesmo modo e ganhar a mesma coisa...

— São maus, esses homens!

— São bons, pelo contrário; como não podem dar tudo a todos, tiram muita coisa de alguns.

— Para quê!... Antes esses continuem a existir com as suas riquezas, porque a gente ao menos tem a esperança...

— A senhora há de tê-las, com esses seus belos olhos... ·

— Ora!... fez ela alongando o busto por sobre o espaldar da cadeira até poder ver o céu pela janela que lhe ficava às vistas.

Pousei o meu olhar nos seus olhos revirados, e segui deles até uma estrela que brilhava muito próxima das nossas cabeças. Nessa rápida postura, a moça atraía fortemente. Seus seios pareciam entumecidos, o pescoço, longo e roliço, saía todo do corpete, e as formas miúdas desenhavam-se com relevo por entre as dobras do vestido. Aquela desenvoltura tão longe da Rua do Ouvidor! Compreendia-se? Ainda lhe vi a tez macia, os cabelos castanhos, as mãos longas e bonitas, um pouco estragadas pelo trabalho doméstico... Depois, nasceram-