Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/138

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— Em outros tempos, houve danças fúnebres; e os selvagens dançam ainda por essas ocasiões.

— Eles têm razão. Não é a gente que quer; é coisa cá dentro...

D. Alcmena levantou de vagar um braço e apanhou, com os seus longos dedos abertos em leque, alguns cabelos que lhe caíam pela testa. Ainda conversamos algum tempo e eu, inebriado pelo capitoso da moça, fascinado pela sua estranheza, esqueci-me, muito inocentemente, de que era inimigo do namoro.

Alcmena levantou-se e me apertou a mão demoradamente, para sair.

Por momentos, fiquei só, mas cheio dela. O seu vulto me enchia, e as suas palavras, que não sei onde as fora buscar, dançavam-me nos ouvidos.

A impressão, em seguida, foi-se apagando, e a lembrança do cadáver me veio. Quando me pus a pensar fortemente nele, o vulto da moça, mais firmemente, voltou-me aos olhos, alto, fino, com seus olhos negros e as curvas transcendentes do seu corpo.

Depois de associar mais de uma vez estas duas imagens, tal fato me apareceu como uma profanação, um sacrilégio. Tive remorsos do que fizera. Mas fora uma mola, um mecanismo,