pelos humilhados, pela dor daquelas gentes donde às vezes não vieram — quando?
— A nossa gente não sofre, é insensível.
— Diz a sério? E logo acrescentou: Sofre. Sim. Sofre a sua própria humanidade.
O meu amigo falava calmo, mas com um travo de azedume na voz.
— Se eu pudesse, aduziu, se me fosse dado ter o dom completo de escritor, eu havia de ser assim um Rousseau, ao meu jeito, pregando à massa um ideal de vigor, de violência, de força, de coragem calculada, que lhes corrigisse a bondade e a doçura deprimente. Havia de saturá-la de um individualismo feroz, de um ideal de ser como aquelas trepadeiras de Java, amorosas de Sol, que se coleiam pelas grossas árvores da floresta e vão por ela acima mais alto que os mais altos ramos para dar afinal a sua glória em espetáculo. Sabes de quem é?
— Não.
— É daquele que aumenta a força vital.
No curso do diálogo pusera-se de pé. O seu olhar tinha perdido a macieza e brilhava extraordinariamente nas órbitas de uma curvatura regular e suave. Falava com firmeza, com calor, sacudindo as palavras, uma a uma; as últimas,