Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/171

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vim descendo ruas ao sabor da multidão; nela, flutuei com prazer, gozando a volúpia da minha anulação... Vinha como uma gota d’água no caudal de um rio, e, quando me perdi no Largo do Rocio, foi para esbarrar com o Dr. Xisto Beldroegas, bacharel em direito e colega de Gonzaga de Sá, na Secretaria dos Cultos. Caminhava devagar e preocupado, sombriamente preocupado. Conheci-o por intermédio do meu amigo, que me descrevera a sua curiosa atividade mental. Beldroegas era o depositário das tradições contenciosas da Secretaria dos Cultos. Apaixonado pela legislação cultural do Brasil, vivia obsedado com os avisos, portarias, leis, decretos e acórdãos. Certa vez foi atacado de uma pequena crise de nervos, porque, por mais papéis que consultasse no Arquivo, não havia meio de encontrar uma disposição que fixasse o número de setas que atravessavam a imagem de S. Sebastião. Gonzaga de Sá contava coisas bem engraçadas do seu colega bacharel. Notava muito a sua necessidade espiritual da fixação, da resolução em papel oficial de tudo e todas as coisas. Beldroegas não podia compreender que o número de dias que chove no ano não pudesse se fixado; e se ainda não o estava, em Aviso ou Portaria,