Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/178

Wikisource, a biblioteca livre

o esperava. De há tempos para cá notava-o menos resignado, irritadiço, mais deprimido, sem energia para se conter. Perdera um pouco a sua ironia aguda, deixava-se facilmente encolerizar e lastimava-se desalentadoramente. Não o tentei consolar; ele não era dos que se consolam. Olhei um instante para fora da janela. As alturas estavam calmas; o céu muito azul e límpido; o sol brilhava sem violência, meigamente envolvendo a palmeira quieta. O flanco chanfrado da pedreira, do outro lado, era visto ao longe, pela janela aberta, bruscamente claro, surgindo por entre a vegetação escura e a rocha, como uma chaga... Os cavouqueiros mexiam-se... O fermento humano na natureza indiferente...

Da rua vinha até nós o pregão monótono dos vendedores ambulantes. Pelas janelas da frente eu vi a ponta das palmeiras do palácio e as alturas do morro de Guaratiba, pairando sossegadamente sobre nossos festins ruidosos...

Gonzaga de Sá levantou o olhar da folha de papel em que estivera rabiscando, passeou a vista pelas três faces da sala aberta para o exterior e permaneceu alguns minutos com o olhar perdido. Por fim, o meu velho camarada voltou-se e perguntou-me ainda uma vez:

— Quem te disse que eu estava doente?