Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/179

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— Já te disse... O Xisto Beldroegas...

— Que idiota! Com aquela voz de castrado, com aquele passo de jaboti... Tenho-lhe nojo, nojo da sua burrice... Imagina que, para me moer, ele se propôs um dia a discutir filosofia com o Baltar... Sabes o que discutiram?

— Não.

— Ouve, Beldroegas diz ao outro, olhando de esguelha para mim, Baltar, vamos discutir filosofia. Baltar empavesa-se, põe as mãos para trás, e diz com segurança — vamos. Baltar tosse, Beldroegas faz um esforço para falar, cacareja e pergunta: Como morreu Sócrates? Felizmente, eu escapei de ser doutor...

Ri-me, enquanto Gonzaga de Sá acendia, a custo, um cigarro. Tremia; vários fósforos apagaram-se. Levantei-me, para deitar fora o meu que se extinguira, e, de soslaio, pude ver a folha que Gonzaga de Sá rabiscava. Eram indecisos traços de uma fisionomia humana... Sempre aquela obsessão. Sentei-me e ele continuou:

— Dantes, e tinha pena. Hoje, sobe-me o ódio, dá-me vontade de lhes quebrar a cara... Eu quis fazer deles o meu ambiente, comuniquei-lhes as minhas leituras... Os burros