Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/23

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Num paiz em que, com tanta facilidade, se fabricam manipanços milagrosos, idolos aterradores e deuses omnipotentes, causa pasmo que a Secretaria dos Cultos não seja tão conhecida como a da Viação. Ha, entretanto, nella, no seu Museo e nos seus registros, muita cousa interessante e digna de exame.

Foi, por occasião de desempenhar-me da incumbência do meu director, que vim a conhecer Gonzaga de Sá, afogado num mar de papeis, na secção de «alfaias, paramentos e imagens», informando muito seriamente a consulta do vigario de Sumaré, versando sobre o numero de settas que devia ter a imagem de S. Sebastião.

Era Gonzaga um velho alto, já não de todo grisalho, mas avançado em idade, todo secco, com um longo pescoço de ave, um grande gógó, certa macieza na voz grave, tendo uns longes de doçura e soffrimento no olhar energico. A sua tez era amarellada, quasi dessa cêra amarella de certos cirios.

Tratei com elle cheio do respeito que, acima da belleza, merece a velhice. Elle me pareceu agradecer a deferencia, olhando-me com mal disfarçado interesse, por debaixo do pincenez, do fundo do abysmo da sua banca burocratica.