dos costumes e à análise das cristalizações sociais, diminuiu-se-me a admiração que eu lhe tinha e tão tumultuaria se mostrava desde o início das nossas relações.
Gonzaga de Sá estava rebaixado a meus olhos. Platão não conhecer o vestuário das damas de Atenas — era possível? Como se saberão ao certo os fortes motivos da custosa nomeação de tal delegado ao Congresso de Repressão da Vadiagem dos Cães, na Itália, se não se souber com exatidão de que fazenda era a saia de Mlle. Zedolin, que dançou num baile chique e partiu para a Europa pouco antes daquela nomeação? Um vestido possui sempre um imenso poder vibratório na nossa sociedade; é um estado d’alma; é uma manifestação do insondável mistério da nossa natureza, a provocar outras em outros. E como Gonzaga de Sá, um sábio, um pensador, um sutil anotador da vida, não lhe tinha estudado a história natural?
— Enfim, disse-me ele, pode parecer que naquela procura de fazendas, de rendas, naquele ajustamento torturado de panos às carnes, há o anseio de um ideal de plástica superior, etérea, imponderável, acima da grosseria dos nossos corpos terrestres; que há em tudo aquilo alguma coisa de desinteressado, de