Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/89

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havia bustos, quadrinhos e minerais insignificantes; e, nas paredes, além de dois ou três pequenos quadros a óleo, uma reprodução da Primavera de Boticelli e um Rouget de Lisle, cantando pela primeira vez a Marselhesa. Havia também sobre a secretária um busto de Julio César e, pregado à parede em que ele se encostava, bem alto, um magnífico retrato de Dante, enquadrado em moldura vulgar. Lia-se-lhe em baixo, em letras góticas, este verso do Inferno: Amor, che a nullo amato amar perdona. Pairava por toda a sala o olhar transcendente de um mocho de bronze, empoleirado na “bandeira” da porta de entrada. Com isso, tudo em muita ordem e sem luxo; havia desordem só na grande mesa do centro, em que livros, revistas, papéis se baralhavam familiarmente. Uma cadeira de balanço destinava-se às longas meditações vadias; à direita da mesa, uma cegonha de pescoço esticado, naquele meneio arisco de cabeça tão característico desse pernalta, presidia com elegância e desconfiança ao laboratório das cismas e dos pensares de Gonzaga de Sá.

Vasos com pequenas palmeiras e avencas estavam espalhados por entre tudo isso. Recebeu-me de pé, com um pequeno jornal na mão.

— Pontual. Cinco horas.