Página:Violeiros do norte (1925).djvu/12

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“Dias depois da serie de conferencias sobre lendas e tradições brasileiras, numa das quaes fez representar em scena aberta o auto da Nau Catharineta, Affonso Arinos offereceu no seu palacete á alta sociedade paulistana um baile da maior sumptuosidade e requintada opulencia; e, a meio da noite, quando os salões regorgitavam das mais bellas damas, çujos alvos collos nús desappareciam sob roçaes de perolas em constellações de diamantes e homens enfarpellados em irreprehensiveis casacas se hombreavam, entrou uma turma de legitimos e retintos caboclos, de chapéos na cabeça e sem collarinhos, para dansar o verdadeiro, o classico, o incorrupto cateretê e, ao se retirarem deste quadro, no qual não sei si o poeta das Georgicas ainda acharia que “a purpura d’Assyria não altera a brancura das lãs”, elle proprio. — Arinos, com aquella sua linha finamente aristocratica, os conduziu até ao tope da escada, apertando a mão de cada um. Neste aperto de mão ia uma renuncia ostensiva, um repto do desprezo do fiel ao chamado respeito humano.”

(Palavras de Miguel Couto, em o discurso de sua recepção na Academia Brasileira de Letras).