Página:Yayá Garcia.djvu/248

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aurora pura uma sombra de superstição romanesca. Pegou-lhe na mão, viu-a estremecer, recusar-lhe e cruzar os braços.

— Tem medo de mim? disse ele ao cabo de um instante.

— Tenho.

Jorge calou-se. Com a bengala entrou a reproduzir no chão umas reminiscências de geometria. Sentia-se atalhado, curioso, e tanto desejava como lhe custava sair dali. Não chegava a entendê-la claramente; a verdade, quando ia a tocá-la, parecia inverossímil. Entretanto, Iaiá não rompia o silêncio; tinha a fronte pendida e meditava. Talvez meditava na palavra que acabava de proferir, fruto da situação violenta em que ela própria ou os acontecimentos a haviam colocado. Era, a rebelião do pudor. De quando em quando, sacudia a fronte como a expelir uma idéia enfadonha ou cruel. Numa dessas vezes, Jorge disse com brandura:

— Para que negá-lo? a senhora padece; não sei se com razão ou sem ela, mas parece padecer muito.

— Oh! muito!

E dessa vez a palavra era tão angustiosa, tão sincera, tão vinda do coração, que ele cedeu antes