Página:Yayá Garcia.djvu/266

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sem cogitar na dificuldade do plano, nem nas conseqüências possíveis dele. Sobretudo, não pensou na moralidade da ação. Que podia ela saber disto? A suspeita ia até admitir a persistência do amor no coração da madrasta, mas não lhe atribui mais do que uma aspiração ou saudade silenciosa; não sabia mais. Para combater esse inimigo inerte, é que pôs em campo a porção de astúcia que a natureza lhe dera, as graças do rosto e a rara penetração de espírito.

Iaiá transpôs a soleira e saiu; precisava de ar, de espaço, de luz; a alma cobiçava um imenso banho de azul e ouro, e a tarde esperava-a trajada de suas púrpuras mais belas, Jorge acompanhou-a; a comoção dele era sincera e forte, mas menos intensa, menos desvairada que a de Iaiá, cujos olhos pareciam dizer a tudo o que a rodeava, desde o sol poente até ao último grelo de capim: — olhai, vede as bodas do meu coração; este é o meu amado.

Perto da noite, Raimundo veio buscá-la; Jorge acompanhou-a. Iaiá lembrou-se de traçar com um grampo, no musgo que reveste o aqueduto, o nome de Jorge e a data; instando com ele, Jorge escreveu também o nome dela. Raimundo sorria entre dentes. Em caminho falaram do presente e