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Parisina (1905)

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LORD BYRON
 
*
 
PARISINA
 
(POEMA)
 
VERSÃO DO
 
Barão de Paranapiacaba
 

 
RIO DE JANEIRO
 
MCMV

PARISINA

LORD BYRON
 
*
 
PARISINA
 
(POEMA)
 
VERSÃO DO
 
Barão de Paranapiacaba
 

 
RIO DE JANEIRO
 
MCMV

Ao
 
Dr. Benjamin Antonio da Rocha Faria
 

Não ao grande clinico e eminente professor, cujo glorioso nome emparelha, de ha muito, em todo o mundo culto, com os dos mais celebres cultores da sciencia de Hippocrates; não ao sabio, a quem a intuição essa segunda vista das naturezas privilegiadas revela todos os segredos do humano organismo e da vida physiologica; não ao abalisado medico, ante o qual tem a morte, tanta vezes, recuado e que a espancou de meu leito quando já me empolgava ella entre as garras; e sim ao homem de nobre coração, que ha prodigalisado, por tantos annos, a mim e á minha familia os extremosos despelos de seu santo ministerio, mais como pai dedicado do que como profissional, recusando até protestos de reconhecimento— offereço esta versão da « Parisina ».

Lembra esta offerta a do pobre, que a um nababo, senhor das mais ricas gemmas de Golconda, viesse trazer, em preito, laminas de talco.

Vós, meu amigo, que na bondade sois nababo e procurais imitar Christo no amor do proximo, recordai-vos que ao Pai de Misericordia foi mais agradavel o obolo, depositado pela viuva no gazophylacio, do que a ostentosa dadiva dos magnatas.

 


 

PARISINA
 

 
I

 

Hora meiga! Escondido em ninho de verdura,
Gorgeia o rouxinol seu mais suave trino.
Cada casal amante, á puridade, jura
Amor, com expressões de encanto peregrino.

Hora meiga! Alliada a brisa, que cicia.
Do trepidante arroio ao murmurio brando.
Fórma, com elle accórde, um duo de harmonia,
Grato ao que, solitario e mudo, está scismando.

Tremúla em cada flor orvalho luzidio;
Resplende todo o céu, de estrellas recamado;
Têm as folhas do bosque um verde mais sombrio
E as ondas do oceano azul mais carregado.

Domina o claro-escuro, a baça claridade;
— Sombra, que tão suave e limpida fluctua.
Quando a noite desdobra o véu na immensidade
E o crepusculo morte ao despontar da lua.

 

II

 

Mas não é para ouvir cascata rumorosa
Que Parisina deixa o conchegado lar ;
Nem para contemplar a esphera luminosa
Que vai, só, á noitinha, o parque visitar.

Não foi para aspirar das flores o perfume
Que ao bosquete desceu; si põe á escuta o ouvido,
Não é da ave canóra ao módulo queixume,
E sim á vibração de accento mais querido.

De subito, ao tumor de passes estremece
A folhagem espessa e em derredor se agita.
Da bella Parisina o rosto empallidece;
Mais lesto o coração no peito lhe palpita.

Em extasi distingue a voz, que lhe é tão cara,
Meiga e terna a soar das arvores no enleio.
Vem-lhe, de novo, á face, a cór, que desmaiára;
Arfa-lhe, de prazer, o delicado seio.

Decorrido que seja um rapido momento,
Verá junto de si o companheiro amado.
O instante deslisou. Em agil movimento,
Cai-lhe, offegante, aos pés o amante ajoelhado.

 

III

 

Que lhes importa, agora, o mundo e a contingencia
Dos successos da vida ? O espaço, a duração,
A terra, o mesmo ceu, dos seres a existencia,
De seu corpo e sua alma aos olhos nada são.

Qual no somno da morte o amante par immerso,
Insensivel a quanto em roda se passava,
Esquecera, de todo, o resto do universo;
Um d՚elles para o outro apenas respirava.

Ha no seu suspicar tão grande vehemencia
De goso, que si forte assim se conservasse,
De tal felicidade e jubilo a demencia
Aquelles corações, talvez, aniquilasse.

Poderiam pensar nos riscos, no adulterio,
Emquanto lhes durava o sonho seductor?
Diga quem já sentiu do Amor o forte imperio
Si em taes casos soffrem assaltos de terrór.

Que o delirio de amor é curto e passageiro,
A՚ que amante acudiu? Acaba de passar...
E acorda o sonhador do sonho lisonjeiro,
Inscio de que as visões não mais hão de voltar.

 

IV

 

Lento, e mau grado seu, do sitio se retiram,
— Theatro de paixão culpada, mas tão doce.
Aprazam novo encontro. Emtanto, ambos suspiram,
Como si aquelle adeus o derradeiro fosse.

O suspiro sem pausa, o geminado amplexo,
O labio, que não mais do labio se desprende...
(Ella a face escondia ao lucido reflexo
Do ceu, que receiava e a quem, peccando, offende,

Como si cada estrella, a scintillar no espaço,
Vira aquelle impudor, do ether atravéz)...
O desejo frequente, o repetido abraço,
Como que á flor do chão lhes afferrava os pés.

Insta a separação e cada qual dirige
Os passos, de seu lado. O peito lhes opprime
Calefrio gelado, horripilo, que afflige;
— Corollario fatal, immediato ao crime —.

 

V

 

Hugo se recolheu ao solitario leito,
Onde, a salvo, cogita em seu amor culposo,
E ella foi encostar a fonte junto ao peito
De seu nobre, ultrajado e confiante esposo.

Em um somno febril se agita e não repousa;
Traduz-lhe a face em fogo o interior tumulto;
Balbucia, sonhando, um nome, que não ousa
Dizer á luz do sol e sempre guarda occulto.

Aperta ao coração, que bate pelo ausente,
O esposo, que desperta e pensa com delicia
Ser a demonstração de puro affecto ardente
Aquella abençoada e férvida caricia.

Feliz de se embalar em crença tão fagueita,
Corresponde ao transporte e de ternura chora
No seio da leal e amada companheira,
Que, ainda entregue ao somno, assim o quer e adora.

 

VI

 

Achega-se á dormente e sobre o seio a preme;
Aos sons, que ella entrecorta, attento ouvido presta...
Pára... Porque motivo empallidece e treme.
Qual si á tuba do Acchanjo ouvisse a voz funesta?

Não lhe póde troar mais horrida sentença,
Na campa, ao despertar de derradeiro somno,
Quando, p՚ra receber castigo on recompensa,
Do supremo juiz comparecer ao throno.

Tem razão de tremer. O que da esposa ouvira
Havia o seu porvir no mundo destruido.
O nome, que ella, ha pouco, em sonho proferira,
E՚ villa da mulher, deshonra do marido.

Tal nome lhe estrugiu com o fragor da vaga,
Que atira ao longe a prancha, o naufrago arrojando
Na aresta do rochedo e deste ao mar, que o traga.
Embale igual soffreu o esposo miserando.

Esse nome foi — Hugo — o seu... Possivel fóra
Suspeitar desse filho, em quem tanto fiára?
Hugo, havido de Branca, a joven seductora.
A quem jurára fé e nunca desposara ?!

 

VII

 

Leva a dextra ao punhal e azzanca-o mais de meio;
Vai a infame punir. Mas... torna a recolhel-o.
Não póde resolver-se a deformar o seio
De quem é da belleza esplendido modelo.

Ella reata o somno e tem risonha a face.
Alli... não! Inda mais... não trata de acordal-a;
Mas vibra-lhe um olhar, que, si ella despertasse,
No mais fundo torpôr devera mergulhal-a.

Suor frio, que á luz da lampada scintilla,
Aljofra rosto e fronte ao principe infeliz.
Calou-se Parisina e dorme, bem tranquilla,
No instante, em que lhe conta os dias seu juiz.

 

VIII

 

De manhã, Azo inquire e colhe, exuberante,
Toda a prova, que teme e colligir procura.
Vai agora sentir, pungindo-lhe, incessante,
O crime atroz dos seus e a sua dor futura.

Negam cumplicidade em erros da accusada
As aias, que salvar, dess՚acte, a vida alcançam.
Dizem que é d՚ella só a falta praticada;
Vergonha, exprobrações só d՚ella á conta lançam.

Confirmando o que diz, tudo explica e descobre
E em minucias se espraia a mercenaria turba;
E d՚Azo ao coração e ouvidos nada, em breve,
Resta ouvir e sentir do crime, que o conturba.

 

IX

 

Prompto em deliberar, seus actos não retarda
Azo. Na sala d՚honra o soberano d՚Este,
Tendo em toda de si a córte e toda a guarda,
Das funcções de juiz no throno, ora, se investe.

Aguardam os dois reus a decisão suprema.
Ambos jovens. E Ella... Ideal assim quem é ? !
Tem Hugo em cada pulso o arrocho de uma algema,
E pendente não traz espada ao boldrié.

Ante o progenitor um filho preso !... Oh Christo !
Não é para assombrar o extraordinario caso ? !
Pois cumpre que ante o pai em ferros seja visto,
Aguardando sentença, o illustre filho d՚Azo.

Deve a paterna voz, cortada de amargura,
Dizer o seu opprobrio e a pena, que merece.
Não se abate o mancebo. Em nobre compostura.
Sem proferir palavra, altivo, permanece.

 

X

 

Pallida, muda e quêda aguarda Parisina
A sentença. Mudou, n՚um dia, a sua sorte.
Não mais seu mago olhar as salas illumina,
Produzindo, em quem fila, o jubilo, o transporte.

Cortezãos já não vê, porfiando na homenagem,
Nem damas a estudar-lhe o porte, os ademans,
O suave da fala, o encanto da linguagem.
O garbo de rainha, as graças tão louçans.

Si ella chozasse, outz՚ora, à dor d՚uma injustiça,
— Para offensas vingar á victima tão bella,
Turba de paladins acudiria á liça,
Tornando-se, cada um, patrono na queréla.

Quem é? Quem elles são ? Si der ordens, agora,
Como d՚antes, serão cumpridas, sem detença?
A côrte, que a cercou, presente alli demora;
Mas em triste mudez, em morna indifferença.

Todos, d՚olhos no chão, o principe circulam;
Carregam o sobr՚olho e torvos se mantém;
Cauzam braços ao peito e apenas dissimulam
De seus labios á flór sorriso de desdem.

 
 

E elle, — seu cavalleiro — o amante, que escolhera;
Que manchára, a seu lado, o leito paternal;
Que, de lança enristada, em prol d՚ella correra,
Si nos olhos lhe lesse, apenas, um signal;

Não vê que outros grilhões os braços lhe encadeiam ?
Não enxerga, sulcando aquelle rosto lindo,
Lagrimas de afflicção, que os olhos lhe roxeiam,
Menos que a propria dôr, do amante a dõr carpindo?!

Das palpebras não vê a errar-lhe no alabastro,
Que sempre a beijos fóra um fervido incentivo,
Violaceo matiz das veias — vivo rastro.
De martyrio cruel, de dôr sem lenitivo,

Palpebras, que em livor agoza lampejando,
Em vez de serem veus dos olhos, que o cançaço
Immoveis já tornou, estão n՚elles pesando,
E se innundam de pranto, ao fim de curto espaço?!

 

XI

 

Elle tambem chorára a sorte da mesquinha,
Si cravados não vira em si tantos olhares.
A dôr, si dôr sentia, occulta se continha;
Guardava erguida fronte e sobranceiros ares.

Humilhara-o o trair a sua magua eterna.
Não fita n՚ella o olhar. Por diante lhe perpassa
O tempo, que fugira, a colera paterna,
Seu crime, seu amor, sua actual desgraça,

O odio, a repulsão da gente, que venera
A sagrada moral, — a sorte que lhe cabe
No mundo e a que, depois, na eternidade e espera. —
E a d՚ella qual será? Sómente Deus o sabe.

Fallece-lhe valor de olhar para esse rosto,
Onde o funebre sello a morte já gravou;
Mas o seu coração revela amplo desgosto
E o remorso cruel dos males, que causou.

 

XII

 

Azo toma a palavra e diz: « Hontem, ainda,
Cifrava o orgulho meu no filho e na consorte.
Sonhei. Desde manhã, a minha crença é finda;
E, antes do pôr do sol, ceifal-os ha de a morte.

Na solidão verei meus dias arrastrados;
Mas todos, no que fiz, de accordo estão commigo.
E que importa hajam sido os vinculos quebrados,
Si o não foram por mim? Eis prestes o castigo,

Hugo! Curva-te ao padre; em confissão te exprobra.
Logo após, soffrerás a pena do attentado.
Resa, em quanto no espaço a noite não desdobra
O seu escuro veu, de estrellas matizado.

Possas indulto havez! E Deus, sempre, accessivel
A quem, de coração, misericordia implora.
No mundo não ha sitio, em que seja possivel
Juntos ambos viver, siquer por uma hora.

Não te verei morrer! Mas é mister que assista
Ao supplicio do amante e o veja degolar
A fragil creatura... Oh! Foge á minha vista!
Afasta-te d՚aqui... Não posso terminar.

Retira-te, ó mulher de peito dissoluto!
Este sangue não eu, sim tu vás derramal-o!
Si resistes com vida, após tamanho lucto,
Eu deixo-te o viver. E possas desfructal-o! »

 

XIII

 

Azo escondeu na dextra a fonte incendiada;
Sem mover-se ficou. Nem mais palavra disse.
Sentia a arteria inchar, bater precipitada,
Como si todo o sangue ao cerebro affluisse.

E, sobre os olhos pondo as mãos, como resguardo,
Para os poder furtar ás vistas circumstantes,
Fronte inclinada ao chão, qual si vergasse a um fardo,
N՚aquella posição ficou, alguns instantes.

Hugo, para seu pai tolhidas mãos erguendo,
Para breve discurso a venia lhe supplica.
Azo em mudez se fecha. Em tal silencio vendo
Symbolica licença, assim Hugo se explica:

«A morte não me assusta. Abrir sangrenta estrada
Me has visto ao lado teu e á frente dos mais bravos;
Nunca em ocio dormiu a gloriosa espada,
Que, ha pouco, me arrancou a mão de teus escravos.

Ella já derramou mais sangue em teu serviço,
Do que tem de manar do golpe, que imminente
Vejo. Déste-me o ser. Nem grato sou por isso;
E՚s livre em retomar o teu fatal presente.

Traidor á minha mài, mentiste-lhe á promessa.
Foi-me vergonha e opprobrio a herança maternal.
Ella dorme na campa; a campa, bem de pressa,
No bojo sorverá teu filho e teu rival.

Seu pobre cotação, por ti despedaçado,
Minha fronte, que o ferro houver, então, scindido,
Do tumulo dirão, — qual funebre attestado,—
Que solicito pai, que tezne amante has sido.

Com ultraje paguei o ultraje, que me has feito.
Victima, como eu sou, de insano orgulho teu,
Ella... tua mulher... devia de meu leito
Compartir; só fallava a benção de hymineu.

Abrasado de amor, ficaste, logo ao vel-a;
Arguiste-me teu crime — a minha bastardia;—
Pintaste-me incapaz de amal-a e merecel-a.
Pois de meu berço a nodoa o thoro mancharia.

Porque? Veda-me a lei que eu use de teu nome,
E como herdeiro d՚elle ao mundo me apresente;
Minha origem impura impede-me que eu tome
Lugar na casa d՚Este e ao throno seu me assente.

Si alguns estios mais me fossem concedidos,
Radiára meu nome em tão intenso brilho,
Que, por feitos de escol, sómente a mim devidos,
Cedêra a gloria d՚Este á gloria de teu filho.

Tive uma espada, sim ! — E tal valor me anima
Que alcançar poderia uns topes, mais brilhantes,
Do que todo e qualquer que os morriões encima
De teus regios avós, na guerra triumphantes.

Nem só a espóras d՚ouro imprime lustre e gloria
A de origem mais nobre, antiga, illustre grey.
C՚o as minhas, quanta vez, gritando « Éste e Victoria » !
De generaes avante o meu corcel lancei!

Não me excuso. Sou teu. Nem peço horas, ou dias,
Que me alonguem, um pouco, a terreal viagem.
Taes horas, aliás, por minhas cinzas frias
Passarão, sem alguem fazer-lhes a contagem.

Era bem de prever não fosse duradouro
Meu delirio de amor. Foi sembra fugitiva!
Bem que o berço me inquine original desdouro,
E me deturpe a vida a mancha primitiva,

Posto que o teu desdem fidalgo recusasse
Acolhimento dar á coisa vil, qual sou,
As paternas feições eu tenho em minha face
E por tua alma, em tudo, a minha se moldou.

Animo sem temor me coube, por herança,
De ti... Que estremeção te abala, desta sorte!
Proveio-me de ti, na sua mór pujança,
Um coração ardente, um braço agil e forte.

Infundiste-me a vida e tudo, que podia
Tornar-me outro tu mesmo, um Azo repetido.
Teu criminoso amor no filho te punia,
Fazendo-o, a mais não ser, comtigo parecido.

Nada em meu coração de bastardia existe;
Minh՚alma, como a tua, odeia todo o jugo.
A vida, dom fugaz, que tu me transmittiste,
E que vás retomar, por mão de teu verdugo,

Tem p՚ra mim o valor, que á tua davas, quando
Da refrega no ardor, na fronte os capacetes,
Pelo sangrento chão cadavetes calcando.
Faziamos voar os ardegos ginetes.

Todo o passado é nada. As horas transitorias.
Que tenho de porvir, serão como o passado.
Peza-me, ao me rever no quadro dessas glorias.
Que não houvesse, então, meus dias terminado.

De minha pobre mai causaste a desventura;
Roubaste-me a mulher, que me era destinada.
E՚s meu pai. Nem de injusta acoimo a pena dura;
Seja embora por ti ao filho decretada.

O fim de minha vida é como seu começo;
No peccado nasci; na infamia vou morrer.
Impões-me este castigo; eu só não o mereço;
A pena de nós dois estou, óra, a soffrer.

Vós, austeros mortaes, de alvitre escrupuloso,
Que da moral do mundo os dictadores sois,
Podeis, embora, o filho achar mais criminoso,
Que o pai. Só cabe a Deus julgar entre nós dois. »

 
 
XIV

 

Disse. E os braços cruzando, os seus grilhões tiniram;
E a todos, que na sala estavam reunidos,
Esse lugubre som, que os echos repetiram,
Molesta vibração causára nos ouvidos.

Aos encantos fataes da moça miseranda
Todos attento olhar dirigem, nesse instante.
Não ha de (pobre ser)! matal-a a dôr infanda
De ouvir mortal sentença imposta ao triste amante?

E ella, pallida e quêda alli se conservára,
— Causa viva do mal, aos dois acontecido. —
Olhos em fixidez, que a dor esgazeára,
Para nenhum lugar se haviam dirigido.

Nem uma vez, siquer, as palpebras descéra
Para d՚ellas no veu sumir o olhar párado,
Por onde se alastrava a baça côr da cera,
Que ás pupillas lhe cerca o azul immaculado.

Em pé, vidzado o olhar, tal como si gelar-se
Sentica o sangue seu — da palpebra na alvura,
Pranto, que lento vem, a espaços, condensar-se,
Das pestanas lhe cai por entre a franja escura.

Vé-se; não se descreve aquella scena horrivel!
E quem essa agonia atroz presenciasse,
Inda vendo-as cair, diria que impossível
Fóra que humano ser taes lagrimas chorasse.

Ella lenta falar. A lingua, já pesada,
Palavras, que não finda, apenas, articula;
A dôr corta-lhe em meio a phrase começada:
Na humida garganta a voz se lhe estrangula.

A essa crise deu fim gemido surdo e afflicto,
Parecendo arrancar-lhe ao peito o coração.
Quiz, de novo, falar, e um prolongado grito
Foi da dôr, que a pungia, a unica expressão.

Veio á terra. Assim cai estatua, sacudida
Da base; tal da pedra o tombo violento.
Mais parece uma coisa inanime, sem vida,
E da consorte d՚Azo o sepulchral moimento,

Que a mulher, no esplendor da força e juventude,
Por indomito amor ao crime arremessada,
Que, ora, da accusação succumbe ao pézo rude
E, verga em desespero, á culpa revelada.

Vive; em deliquto jáz, bem semelhante á morte.
Presto a fazem volver da angustia ao paroxysmo;
Mas não volve á razão. O abalo foi tão forte.
Que lhe partiu, de um golpe, as mólas do organismo.

Qual arco, cuja corda a chuva se distende,
Lança fóra da mira as settas despedidas,
De seu cerebro a teia, a esmo, só desprende
Falas sem seguimento, ideias descosidas.

Passado já não tem; — caligem tenebrosa,
De sinistros clarões cortada — é seu porvir.
Assim, de quando em vez, por noite procellosa,
Em erma estrada vem relampagos luzir.

Sentia com terror que em sua consciencia,
— Fardo gelido e grave — um acto mau pesava ;
Que havia opprobrio e crime e alguem nessa emergencia
Deveria morrer. Mas quem? Não se lembrava.

Mas é certo que vive? E՚ terra o que ella pisa?
E՚, na verdade, o ceu, que sua vista abraça?
Serão homens reaes, que em torno alli divisa,
Ou demonios, fitando olhares de ameaça

Nessa, que em todos via olhar benevolente,
Encomios, saudações de sorridentes bocas?
Hoje é tudo confuso e vago nessa mente
— Cháos de terrores vãos e de esperanças loucas. —

Alternando esse riso e pranto sem motivo,
E levando ao delirio o jubilo e o pesar,
Sob o domínio está de um sonho convulsivo;
E, em vão, ha de querer do sonho despertar.

 

XV

 

Em cadencia, a oscillar na torre do convento,
Tisnada pelo tempo — está dobrando o sino —,
Dentro dos corações o som funereo e lento
Repercute. Escutai! Nos ares vibra um hymno.

Piedosa oração, solemne, a Igreja entôa
Por quem a morte espera, ou morto já, descança.
Do involucro mortal, em breve, uma alma vôa;
Por ella ergue-se o hymno e o sino os dobres lança.

Toca da vida o termo; ao confessor prostrado,
(Coisa triste a narrar e á vista repugnante)!
Sobre o lagedo nú e fio ajoelhado.
Hugo, da guarda em meio, o cepo tem diante.

O algo está presente e, a fim de que se apure
No desfechar do golpe, o braço desnudou.
Cuidadoso, examina o fio da segure,
Que para a execução, adrêde, preparou.

No entanto, a multidão em torno se agglomera,
E em circulo cerrado infileirar-se vai;
E (espectaculo atroz)! silenciosa, espera
Ver um filho morrer, por ordem de seu pai.

 

XVI

 

Foram cheios de encanto os ultimos instantes,
Fugazes, precedende o fim d՚aquelle dia.
O sol na triste scena os raios mais brilhantes,
Como por irrisão, do occaso desferia.

Na cabeça do reu dardeja a luz diffusa;
Emquanto, ajoelhado, em contricção sincera,
Ao ministro de altar dos crimes seus se accusa,
E na benção da igreja o seu indulto espera.

Na grave e curva fronte um raio se insinua,
E desce a illuminar-lhe a cabelleira escura,
Cujos bastos anneis de sua gorja nua
Vão, em parte, encobrir a delicada alvura.

A luz fere tambem a lamina polida
Do cutelo, visinho ao moço genuflexo,
E espelhando-se alli, resurte, repetida
Num cego, offuscador, mas funebre reflexo.

Amarga hora suprema! A՚ na vinda, o susto
Invade o mais valente. Execra-se o flagicio;
A justiça, que o pune, exerce um acto justo;
Mas quem não estremece á ideia do supplicio ?!

 

XVII

 

Exalçou para o ceu o rógo derradeiro
O filho, ao pai traidor, o incestuoso amante.
De tudo se arguiu; desfiou cosario inteiro,
E chega, sem remedio, a seu final instante.

Despojam-no do manto. A coma, que, tão bella
Se desdobra em anneis, cortada eil-a no chão.
A charpa, que elle traz e fóra mimo d՚ella,
E a véste — não n՚as leva á funebre mansão.

E՚ preciso despir o seu fidalgo traje;
E՚ mister consentir que um alvo lenço vele
Seus olhos... Porém não... Aquelle ultimo ultraje
Não ha de supportar. Seu animo o repelle.

Quando querem vendal-o, o brio lhe resalta
Do estudado desdem, em que jazeu; pois sente
Que o deprimem assim, fazendo crer lhe falta
Valor para encatar a morte, frente a frente.

Com signal expressivo o feto condemnado
Desviando a mão do algoz, vehemente, assim profere:
«Sangue e vida te dou; conserva-me algemado;
Mas deixa-me expirar c՚os olhos livres. Fere!... »

Põe no cepo a garganta, e em quanto está vibrando
«Fere», — seu grito extremo — a mão do algoz cruento
Ergue o ferro luzente e, o golpe desfechando,
Decepa-lhe a cabeça e a rola ao pavimento.

Convulsivo tremor bocca e cilios lhe agita;
Labios, olhos, p՚ra sempre, immoveis se tornaram;
Veias do tronco seu, que, informe, inda palpita,
Harta chuva de sangue ao pó de chão golphazam.

Humilde peccador, morreu, sem do peccado
Fazer alarde vão. Orou com humildade;
O confessor não foi por elle desdenhado,
E não desesperou da Divinal Bondade.

Curvado ante o prior, tendo a alma deputada
De todo o terreal, humano sentimento,
Sen irritado pai... a sua propria amada,
Que podiam valer no critico momento?

Nem desesperação, nem queixa. A Deus se volve
Pensamento qualquer, que o cerebro lhe gera;
Palavra, que profere, em rógo se resolve,
Contrario, n՚este ponto, áquillo, que fizera

Quando, ao ferro do algoz o nú pescoço expunha,
Reclamando-lhe o jus de vêr a morte em face.
Fóra o ultimo adeus á toda a testemunha,
Que assistiu d՚esse drama ao triste desenlace.

 

XVIII

 

Mudo, como esse labio, á que poz sello a morte,
Cada um espectador contém o seu respiro.
Forte horripilação de electrico transporte,
D՚ala em ala a correr, perfaz da turba o gyro.

Quando veio ferir da machadinha o fio
Esse, que assim findava os dias e os amores,
Só quebrou o silencio um leve murmurio
— O de abafados ais, leaindo intimas dôres. —

Não houve outro rumor, coetaneo ao do machado,
Que dá, forte, no cepo e funebre resóa.
Não houve... a não ser um... Que lanscinante brado
Vibrando, fere o ar e os tympanos magoa!?

Grito de insania e horror, qual solta voz materna
Quando um filho adoece e morre, de repente.
Exprimindo d՚um՚alma a dor immensa, eterna,
Esse guito se exalça aos pés do Omnipotente.

 
 

E d՚onde procedeu? Foi d՚uma gelosia
Da régia senhoril. Os olhos convergiram
Para o sitio indicado. Alli nada se via.
Escutatam em vão, pois nada mais ouviram.

Era voz de mulhet. De humana creatura
Qual mais desesperada? Aquelles que o escutaram,
Cheios de compaixão por tanta desventura,
Que fosse aquelle grito o extremo desejaram.

 

XIX

 

D՚esde que o delinquente expiara o desacate,
Sumiu-se Parisina e nunca mais a viram.
Qual si fosse expressão, lesiva do recale,
Todos o nome d՚ella aos labios prohibiram.

Azo não faz menção, jamais, de filho e esposa.
Preito não se lhes deu de tumulo, ou letreiro:
Em sagrado torrão nenhum dos dois repousa...
D՚isso ha plena certeza, em quanto ao cavalleiro.

De Parisina o fim permaneceu occulto,
Como as cinzas de um morto em taboas do ataude :
Ao claustro recolheu? Alli comprou o indulto.
A՚ custa de remorso e penitencia rude?

Contrita, acrysolou su՚alma polluida
Do cilicio, jejuns e insomnias no rigôr;
Seria pelo ferro ou toxico punida
De seu tão arrojado e criminoso amor;

Ou quiz, piedoso, o ceu, poupando-lhe tormento,
Que da morte do amante a triste succumbisse,
E nos transes da dôr o seu ultimo alento
Do roto coração c՚o a vida lhe fugisse?

Quem o póde saber? De tal não ha sciencia;
D՚esse mysterio o veu não ha rasgal-o alguem.
Certo, qual começou, findou sua existencia:
Abre a vida c՚o a dôr; na dôr seu fecho tem.

Teve Azo outta mulher. Cresceram a seu lado
Filhos, que deram lustre á sua estirpe nobre.
Nenhum d՚elles, porém, tão bello e denodado,
Como aquelle que, ha muito, o chão funereo cobre.

Ou si estão com o morto em linha de igualdade,
Nunca se mostra o pai dos filhos orgulhoso.
Quando o principe cede á força da verdade,
Costuma soffrer suspiro pesaroso.

Nunca mais essa face as lagrimas sulcaram,
Nem sorriso alisou aquella vasta frente,
Onde do pensamento as rugas se gravaram:
— Sulcos, que abre da dôr precoce a celha ardente.

Taes cicatrizes n՚alma as guerras d՚alma deixam.
Misero! Já não tem nem dôr, nem alegrias.
Por noites de afflicção seus olhos não se fecham,
E arrasta em magoa e tedio insupportaveis dias.

A՚ censura, ao louvor estranha jaz su՚alma.
Nada quiz perdoar; de nada se olvidava.
Quando mais se investia em rigidez e calma.
A՚ ideas e emoções intensas se entregava.

N՚um rio a superficie apenas é gelada;
Vivas por baixo, a flux, correndo as aguas vão,
E sempre hão de correr. Assim, sob a camada
De gelo, que involvia aquelle coração,

Gyravam, sem cessar, idéas em corrente,
Que a natureza alli, bem fundo, lhe imprimira,
De modo a não poder banil-as, facilmente,
Como, p՚ra todo o sempre, as lagrimas banira.

Si ao rapido passar, a custo, suspendemos
Essa do coração purissima agua viva,
Não é que n՚esse esforço o veio lhe esgotemos;
Ella reverte, logo, a fonte primitiva;

Lá, em crystal mais puro, em mais profundo leito,
Sem jamais congelar-se, occulta, não vertida.
— Quanto mais concentrada em adytos do peito
Cada lagrima ardente, é tanto mais dorida.

Sentindo renascer assomos de ternura
Pelos que condemnára á degradante exicio,
Não podendo luctar com a solidão escura
Do vacuo da existencia — o seu maior supplicio —

Sem esp՚rança de os vêr na região serena,
Onde p՚ra o goso eterno as almas vão juntar-se;
Conscio que déra aos teus a merecida pena,
Azo em triste velhice a vida vê findar-se.

Quando de arvore forte em ramos filtra a eiva,
Si opportuna lhe acode a póda habilidosa,
Bebendo pelo tronco e folhas nova seiva,
Póde reverdecer e reflorir, viçosa.

Mas si o raio chammeja e, furioso, desce
A՚ cópa, que reduz á cinzas, n՚um momento,
Nú, combusto no cerne, o tronco permanece,
Sem jamais abrolhar no minimo rebento.

 

NOTA

 

O poema « Parisina » é, precedido da seguinte « Advertencia »:

« Repousa este poema sobre um successo, assim relatado por Gibbon nas Antiguidades da Casa de Brunswich.

Uma tragedia domestica ensanguentou Ferrara, no reinado de Nicolau III. O Marquez d՚Éste, por denuncia de um criado, foi testemunha ocular da ligação incestuosa de sua esposa Parisina com Hugo, seu filho natural, guapo e valoroso moço. Foram ambos decapitados na prisão, por ordem do esposo e pai, que tornou publico o seu opprobrio, sobrevivendo á execução. Digno de lastima é elle, si puniu culpados e muito mais si immolou innocentes.

Em qualquer dos casos, porém, não é attenuavel n՚um pai tamanha severidade. »

Byron substitue o nome de Nicolau pelo de Azo.

 
٭
 

«Eis a narração de Frizzi em sua «Historia de Ferrara», excerpto, traduzido do italiano por Byron e junto á primeira edição de « Parisina ».

O anno de 1425 correu infeliz paza os habitantes de Ferrara, pois a córte foi ensanguentada por um acontecimento tragico, cujos promenores se conservaram em nossos annaes, quer impressos, quer manuscriptos, com excepção do trabalho incorrecto e grosseiro de Sardi e de outros. D՚elles cortei muitas circumstancias, principalmente as da narração de Bandelli, historiador, que viveu no seculo seguinte ao facto, e que diverge da maioria.

« Em 1405, o marquez houvera de Stella dell՚ Assassino um filho, de nome Hugo, formoso e heroico mancebo. Parisina Malattesta, segunda mulher de Nicolau, tratava o enteado com desamor de madrasta, desgostando n՚isso ao marquez, que estremecia o filho. Solicitou Parisina do marido licença para uma excursão. Assentiu Nicolau, exigindo que Hugo a acompanhasse. Esperava elle que as relações quotidianas da viagem posessem termo á aversão da madrasta ao enteado.

O exito foi muito além de seu desejo; pois não só deixou a moça de aborrecer, como sentiu abrasar-se-lhe o coração de apaixonado amor ao filho de seu marido. A՚ volta, nunca teve e marquez occasião de renovar á Parisina as arguições, que, outr՚ora, lhe fazia a respeito de Hugo.

Um dia, certo serviçal do marquez, Zoese de appellido, (outros chamam-n՚o Giorgio,) ao passar em frente dos aposentos de Parisina, viu d՚elles sahir uma de suas aias, transtornada e desfeita em lagrimas. Interrogada, respondeu essa mulher, que, por falta ligeira, fôra pela marqueza maltratada, accrescentando, em expansão de resentimento, que lhe setia facil tomar della vingança, pondo a descoberto a ligação criminosa de Parisina com o enteado.

De tudo deu o serviçal conhecimento ao marquez. Recusou este dar fé á horcivel declaração; mas teve (oh vergonha!) de certificar-se da verdade por seus proprios olhos applicando-os á uma fresta, que mandáta abrir no quarto da mulher. Delirando em grande accesso de furor, deu, immediatamente ordem para que fossem presos os culpados e com elles Aldobrandino Rangoni, de Modena, e duas aias, que haviam apadrinhado o incesto.

Sujeitou-os, acto continuo, a um tribunal, que, julgando-os, de conformidade com a lei commum, pronunciou pena ultima. Intercederam, entre outros, em favor dos culpados Ugoccion Contrario, personagem de peso no espirito de Nicolau, e Adalberto dal Sale, velho criado do soberano. Ambos, em soluços, rodeando-lhe com os braços os joelhos, appellavam, em humilde supplica, para a sua compaixão; inventavam excusas e faziam valer todas as considerações, que aconselhavam a disfarçar-se, ante o publico, o escandalo. Foi em vão. Inflexivel em sua colera, o marquez ordenou a prompta execução da sentença.

Na noite de 24 de Maio, Hugo e, após elle, Parisina foram decapitados na medonha prisão, ainda hoje existente por baixo do aposento Aurora, junto à torre de Lião, na extremidade da rua Giovecca. Acompanhou, de braço, a Parisina, até o lugar da execução, o serviçal Zoese, seu denunciante. Na persuasão de que ia ser encerrada n՚um calabouço, perguntava a ré, em quanto seguia caminho, si estavam longe, ou perto. A resposta fôra que ia ser degolada, e não encarcerada. Inquerindo de Hugo, e sabendo que já elle estava morto, rompeu n՚esta exclamação: «Nada mais me prende á vida. » Ao chegar junto ao cepo, despojou-se, pelas proprias mãos, de todos os enfeites, e, velando a cabeça, offereceu-a ao golpe fatal, que póz fecho á lugubre scena. Coube á Rangoni a mesma sorte. Resa o registro da bibliotheca de São Francisco que foram os tres reus entertados, juntos, no cemiterio d՚aquelle convento. Nada consta á cerca das aias.

O marquez passou insomne toda aquella noite, percorrendo, a largos passos, o aposento. Perguntou ao capitão da guarda si Hugo já fora executado. Ouvindo resposta affirmativa, entregou-se a transportes de dôr, bradando, entre gemidos: « Porque não morri, eu, que fui forçado a sentenciar meu filho á morte...? » No dia seguinte, lembrou-se de justificar seu procedimento, que não podia ficar em segredo. Redigiu processo verbal, de que enviou copia a todas as côrtes da Italia.

Ao receber a noticia, Francesco Foscari, doge de Veneza, mandou suspender, sem declarar porque, os preparativos d՚um torneio, que, sob os auspicios do marquez e a expensas da cidade de Padua, ia celebrar-se na Praça de S. Marcos, para festejar a posse de mesmo doge.

Não satisfeito com o supplicio, o marquez, impellido por inconcebivel desejo de vingança, sentenciou á morte do cutélo outras muitas mulheres, nas condições de Parisina, entre ellas Barberina, ou, como alguns a chamam, Laodamia Rome, mulher do principal juiz de Ferrara. Soffreu ella igual pena no lugar ordinario das execuções, isto é, no bairro de São Thiago, em frente da actual fortaleza, um pouco além de S. Paulo. Não ha censura bastante paza a crueldade d՚esse principe, a quem motivos sobejos assistiam para ter, n՚este particular, mais indulgencia, que os outros. Houve, no emtanto, quem o justificasse.

CONCLUIU-SE A IMPRESSÃO
DESTE POEMA NAS OFFICINAS
GRAPHICAS DA CASA E. BEVI-
LACQUA & C. EM JANEIRO
DE MCMV.

Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1930 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.