Poesias (Zaluar)/12
POESIA XII.
..........Et ecce stella
quam viderans in Oriente, antece-
debat eos, asqua dam veniema sta-
ret suprà, abi erat poer.
S. Matteus — Cap. II. — 9.
I.
Inspirai-me! harpas divinas da Sião!
Tambem vós m’ inspirai, oh! astro sancto!
E os montes de Judéa que repittam
Do bardo do Occidente o solto canto!
Guiai os versos meus, qual já guiaste
Altos Reis para o berço de um menino!
E a crença viva, — que no peito sinto,
Desabroxe em flor n’este meu hymno!
II.
Lá vejo os Reis soberanos,
Lá vejo as lindas zagallas,—
Lá vejo do pobre a pobreza,
Lá vejo dos ricos as galas!
Lá vejo ao pé de um bercinho
O mundo inteiro prostrado:
Nasceu o filho da Virgem,
No Céo,— na terra adorado !
Que festas!—Oh! que alegrias!
Na venturosa Bethlem—
Oh! que luzidos folguedos!
Oh! que de povos lá vem!.
Depõem aos pés d’um menino—
Incenso e mirrha cheirosa, —
Depõem na face divina
Mil beijos sobre uma rosa!
Lá vejo os anjos celestes,—
Lá vejo os mil cherubins—
Em manto d’azul involtos,
Recamado de rubins!
E vejo sobre este quadro
Um astro resplandecente!
É a estrella dos tres magos,
Linda estrella do oriente!
III.
Tu és o meu pharol, — és meu encanto,
Luzinha bemfadada!
E eu hei-de confiar-te os meus segredos,—
Serás a minha amada!
E tu has-de ensinar á minha lyra
Um canto apaixonado,
E eu hei-de aprender nos risos teus
A sina do meu fado!
IV.
Eu quero seguir teu trilho,
Que me não ha de enganar:—
Uma luz seguir eu quero,
Que ninguem possa apagar!
Linda estrella do Oriente,
Tú serás o meu desvelo—
Companheira, — esp’rança minha,
Amante por quem anhelo!
Eu irei sobre as montanhas
Ver findar,—morrer o dia;—
E saudar-te aqui da terra
Sempre em cantos d’alegria!
Eu irei rever nas agoas
Teu reflexo peregrino,—
E soletrar nos teus raios
Algum mysterio divino!
Irei ás brisas da noite
Descantar nossos amores,—
Dizer-lhe que abres no céo,
Como a rosa abre entre’ as flores.
Irei viver nos desertos,
Povoado o pensamento!
Irei curtir os desejos,
Tendo no seio o tormento!
Irei sentar-me na fraga
Do caminho abandonado,—
Peregrino de uma esperança
Sobre a terra desterrado!
E tu, que os tres Reis guiaste
Para o berço d’um Menino,—
Guiarás tambem minh’ alma
Para o seu throno divino!
Natal de 1844.

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