Poesias (Zaluar)/9
POESIA IX.
O BARDO.
La coupe de mes jours s’est brisée encor pleins!
De Lamartine — Meditation XVIII.
III.
P’ra que ides extinguir, — almas descrentes,
A lampada, que luz no sanctuario?
Não vérgas de remorso?—horror não sentes
Os sanctos véos rasgando do sudario?
Queres tambem profanar hymnos ardentes
Do Bardo solitario? —
Essa chamma!... o genio!—esse beijo
Que na fronte do poeta Deos pousou,
Onde a immortalidade escripta vejo,
Nos cantos que o Eterno lhe inspirou?!
Deixa-o só n’alta rocha meditando,
Não perturbes o canto ao trovador!
Deixa-o a sua harpa alli vibrando,
Chorar amargos prantos, negra dôr!
Depois tremulas mãos erguer ao Céo;
A sancta inspiração raiar na mente!
D’altos mysterios lhe desdobra o véo;
Deos eterno, — Senhor Omnipotente!
Eis que o Bardo ajoelha no penedo!
Ondeam-lhe os cabellos com a aragem,
Tem por pedestal amplo rochedo:
Oh! propheta de Deos! sagrada imagem!
Que silencio! — não vades perturbar
Do Bardo extatico — a admiração!
Deixai-o só com Deos a meditar—
Pelo espaço dos céos—n’amplidão!
IV.
Quasi como um sonho, — pelo mundo
O Bardo tem passado!
De todas as flores, quantas colheu,
Todas teem murchado!
Uma d’ellas a flor mais extremosa
Guardou com muito ardor:
Chamava-lhe elle o fogo do seu estro,
Vós chamais-lhe amor!
Mas um dia.... veio a tempestade,—
Veio o negro bulcão
E arrancar-lhe foi lá dentro d’alma
A flor do coração!
Ficou só.... triste! — solitario!
Sua vida a chorar!
A taça da agonia, — o fel da morte, —
Em tragos a esgotar.
Desde então.... além—n’esse rochedo
Reza com fervor,
E dos céos baixa sempre a consolal-o
Um anjo do Senhor!
6 de Janeiro de 1843.

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