Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/A’ Diamantina (II)
Vêde a nympha serrana! Ella se inclina
No outeiro, descançando os pés na rocha,
Que guarda o seu thesouro;
E’ uma flôr que entre rubins desbrocha,
Humectada por fonte crystallina
Correndo em leito d’ouro.
Jaz-lhe na aurora recurvado sêrro,
Longo, escamoso, qual petrificada
Gigantesca serpente;
Sentinella, que dorme descuidada,
Emquanto róe-lhe as visceras o ferro
Da garimpeira gente.
Como fragmentos d’alva porcellana
Ao pé do sol sob lâmina lampejam
Desparzidos na arêa;
Assim aos olhos do viajôr alvejam
Os muros mil da senhoril Serrana
Que de branco se arrêa.
Oh! eu amo essa nympha tão formosa,
Que sorriu-me ao nascer; aqui me trazem
Lembranças da que amei…
Ali chorei no tumulo onde jazem
As cinzas frias da mulher piedosa
Cujo seio habitei!…
Vinde, amigos, oh! vinde pressurosos
Bemdizer uma vez meu patrio berço
No solo hospitaleiro,
No adamantino cofre do Universo
Onde estacam os olhos cubiçosos
Do ávido estrangeiro.