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Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/A Rosa branca

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ROSA BRANCA


Guarda essa flôr, ó querida,
Sim, guarda-a por tua vida
Bem junto do coração;
Ella é a flôr da innocencia,
Inda não fanou-lhe a essencia
Nenhuma profanação.

Imita essa flôr singela,
Na candura a flôr mais bella,
Que nasce no coração:
Senão verás de desgôsto
Co’as azas cobrir o rosto
O teu anjo guardião.


Colhi-a hoje do galho,
Inda humida do orvalho
Da luz ao primeiro alvôr;
E já zephyros ligeiros
A cercavam bandoleiros
Com muitos modos de amôr.

Não depuz nella um só beijo,
Pois seria de sobejo
Para manchar-lhe o candôr;
Para que logo murchasse,
E de branca se tornasse
Na mais purpurina côr.

Sê pois como a flôrzinha,
Tenha ella uma irmãsinha
Dentro de teu coração:
E’ a rosa da innocencia,
Rosa de angelica essencia,
Que Deus só ama em botão.