Saltar para o conteúdo

Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Despedida

Wikisource, a biblioteca livre
 
DESPEDIDA


Quando chega de outros climas,
Aonde vagou perdida,
A andorinha que adora
A primavera florida,

Ella vôa prazenteira
Debaixo do céo antigo,
Saudando de tecto em tecto
O seu conhecido abrigo.

Como ella, depois da ausencia,
Volto á casa conhecida,
Fui passar em outras terras
A primavera da vida.

Como ella saúdo agora
Esta bemdita mansão,
Aonde pousado havia
Na minha flórea estação.


Porém tudo está mudado;
Estes climas são melhores,
Se deixei botões fechados,
Os botões hoje são flôres.

Parece que nestes montes
Passou o sôpro de Deus,
A ventura aqui derrama
Os dons e os encantos seus.

Este céo falla á meus olhos
Minh’alma estas flôres ama,
Mas cumpre levar meus dias
Aonde o dever me chama.

Adeus! eu levo a saüdade,
Mas deixo meu coração;
Commigo vai destas horas
A doce recordação.

Cada qual tem uma estrêlla
Que rege os destinos seus,
Adeus! que a minha me arrasta,
Ainda uma vez—adeus!