Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Despedida
Quando chega de outros climas,
Aonde vagou perdida,
A andorinha que adora
A primavera florida,
Ella vôa prazenteira
Debaixo do céo antigo,
Saudando de tecto em tecto
O seu conhecido abrigo.
Como ella, depois da ausencia,
Volto á casa conhecida,
Fui passar em outras terras
A primavera da vida.
Como ella saúdo agora
Esta bemdita mansão,
Aonde pousado havia
Na minha flórea estação.
Porém tudo está mudado;
Estes climas são melhores,
Se deixei botões fechados,
Os botões hoje são flôres.
Parece que nestes montes
Passou o sôpro de Deus,
A ventura aqui derrama
Os dons e os encantos seus.
Este céo falla á meus olhos
Minh’alma estas flôres ama,
Mas cumpre levar meus dias
Aonde o dever me chama.
Adeus! eu levo a saüdade,
Mas deixo meu coração;
Commigo vai destas horas
A doce recordação.
Cada qual tem uma estrêlla
Que rege os destinos seus,
Adeus! que a minha me arrasta,
Ainda uma vez—adeus!