Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Ella
Mais bella que as sylphos, que em placidos sonhos
Vagueiam na mente juncada de amôres
De linda donzella;
Mais bella que um —quero— de labios risonhos,
Que os astros da noite mais bella, que as flôres,
Mais bella, mais bella!
Mais pura que a limpida fonte deitada
Na candida arêa, mais pura que a briza,
Que baixo murmura
Nas folhas, nais pura que préce sagrada,
Que a nuvem azulada que a aurora matiza,
Mais pura, mais pura!
Mais meiga que uns olhos morrendo de amôres,
Mais doce que o canto da rôla saüdosa
Na flórida veiga;
Mais doce que o canto sem causa, sem dôres,
Que um beijo furtivo de virgem medrosa
Mais doce, mais meiga.
E’ anjo celeste dos céos exilado,
E’ anjo incarnado que a terrea natura
De corpo reveste:
Não fosse ella um anjo celeste incarnado
Que ás plantas lançára-lhe uma alma!—loucura!
E’ anjo celeste!