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Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Leviana

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LEVIANA


Quando um beijo eu lhe pedia
Ella dizia que—sim;
Mas ao beijal-a fugia,
Fugia longe de mim.

Se eu pedia, ella não dava,
Se eu ralhava, ella sorria,
Se eu fugia, ella chorava,
Se eu voltava, ella fugia.

Mas quando scismando vinha
Sentar-se junto de mim,
Não era a mesma louquinha,
Jámais dizia que—sim.

E se eu a beijava então,
O seu coração batia,
E ás suas faces subia
O sangue do coração.


Era formosa sorrindo.
Mas era bella tristonha;
Melancholica, ou risonha,
Tinha sempre um rosto lindo.

Era o anjo que eu sonhára
Nos jovens sonhos de amôr,
Quando n’um só ajuntava
Os do prazer, e da dôr.

Não mais hão de os sonhos meus
Sôbre os céos ir procural-a,
Para na terra encontral-a,
Já não careço dos céos.