Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Mensagem
Borboleta inconstante, voluvel;
Mais que a folha do vento movida,
Este amargo suspiro recebe,
Leva aos aures da minha querida.
Que um zephyro brando deslize
Sob os remos com que tu navegas,
E não turvem os céos tempestades,
E não varram-te negras refregas.
Vai, pequeno, piedoso volatil,
Por mim faze este bom sacrificio,
Que a bonina gentil te receba,
Que te preste a anemona hospicio.
Vai beijando as flôrinhas; Augusta
Lá no centro verás do jardim;
Passa em frente na verde roseira,
A mensagem refere-lhe assim:
Eu, innocente,
Ora voando,
Ora pousando
Para buscar
Meu alimento,
Não tinha assento.
Eu não podia
Pousar nas flôres
De mais licôres
Para os chupar;
O vento dava,
E me levava…
Um desgraçado,
(De certo o era!)
Disse-me:—espera,
Animal lindo,
Vem adoçar
Meu pranto infindo.
Conta á Augusta
Os meus amôres,
Que colhe flôres
Sem suspirar;
Quanto suspiro,
Quanto deliro.
Conta que viste,
Já sem encanto,
Meu rosto pranto
Triste banhar,
Ah! dize á bella,
Que a causa é ella,
Conta que sorves
Da flôr a vida,
E que bebida
Vás divagar;
Que assim sem norte,
Me ella dá morte.
Conta-lhe quanto
E’s inconstante,
Sem um instante
Jámais parar:
Que tal ingrata,
Ella me mata…
Co’as azas liba o pollen da cheirosa
Rosa,
Que no jasmineo seio a donzella
Zela:
Mostra-lhe esquivo perto o mais orlado
Lado
Das franjas tuas; se ella te demanda,
Manda
Veloz adêjo aonde não percorre…
Corre
Para quem pressuroso aqui te aguarda,
Guarda
Contra ferros de amôr laços amenos;
Menos
Que os que meu extremo prepara
Para
Uma prisão feliz que não se esvae,
Vai…