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Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/O Echo

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O ECHO


Quando eu era pequenino
Subia alegre, e traquino
Da montanha o alto pino,
Para os echos escutar;
Suppondo ser uma fada,
Que me fallava occultada,
Para ouvir sua toada
Gritava á tôa no ar.

Contava-lhe os meus amôres,
Meus segredos, minhas dôres,
E os desejos matadôres
Que eu tinha no coração;
Eu tinha amôres suaves,
Meus segredos eram graves,
Sentia não ser as aves,
Que no ar voando estão.


Eu amava a nuvem lisa
Que pelo ar se desliza;
Amava o sôpro da briza
Que beija o calix da flôr;
Amava a lua engraçada
Com sua côr prateada,
Ora inteira, ora cortada,
Sempre triste, e sem calôr.

Ouvir do echo eu queria
Todo o nome que eu dizia;
Mas o echo repetia
Só das palavras o fim;
De certo, o mesmo fallando
Estava mesmo pensando,
E o echo me confirmando,
Eu ia dizendo assim:

« Se o teu amiguinho
Fiel não te enfada,
Fada,
Vem já responder-me
Com tua voz linda,
Inda
Se as cousas bonitas
Que alguns disseram
Eram
Verdade ou mentira;

Meu peito esta tarde
Arde
Por saber se as fadas
Um bello condão
Dão,
Que faz crêar azas,
Que se vai volvendo
Vendo
Jardins de outras terras
Cheios de cheirosas
Rosas
Ao pé de uma fonte…
Oh! isto é assim?…
Sim!
Pois, dai-me umas azas,
Quero ir na corrente,
Rente,
Ter á mãi das aguas
Que está no profundo
Fundo;
E vêr perto a nuvem
Que no céo desliza
Liza;
E vêr se as estrêllas
São frias, ou quentes
Entes;

Se ha anjos na lua,
Se o sol tem cabellos
Bellos…
Tu que és uma fada
Depressa responde
Onde
Acharei taes azas?
Eu hei de atroar
O ar
Bemdizendo as fadas
Que o mago condão
Dão.
Oh! tu juras dar-me
Um condão assim?…
Sim!…
Adeus, boa fada,
Que o dia se esvai…
Vai…
Amanhã as azas,
Oh! não é assim?
Sim!…