Poesias posthumas do Dr. Aureliano José Lessa/Soneto (II)
Aparência
SONETO
Faço timbre uma vez de aborrecer-te,
Mil vezes faço timbre de adorar-te,
Tuas faltas de amôr mandam deixar-te,
Minha viva paixão manda querer-te.
Se procuro, cruel; deixar de vêr-te,
A tristeza me cérca em toda a parte;
Se para allívio meu busco fallar-te,
Sinto n’alma pezar de conhecer-te!
Oh! tu, causa cruel de meus tormentos,
Oh! tu, querida ingrata! minha sorte
Ouve; escuta meus ais, e meus lamentos!
Já que viver não posso em tal transporte,
Já que o céo não me muda os soffrimentos,
Ou muda tu de genio, ou dá-me a morte!