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Portugal, Terra de Sonho e de Poesia

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SENHOR PRESIDENTE DA
«ASSOCIAÇÃO BELGO-IBERO-AMERICANA»
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,

O nome desta sociedade: "Asociación Belgo-Ibero-Americana", sempre me soou como um ribombar de alegria, como um hino glorioso, uma declaração que canta vitória, uma aliança robusta e indestrutível.

Não, por certo, uma aliança guerreira, uma aliança defensiva e ofensiva, mas uma aliança, como deveriam ser todas elas, criada pela simpatia mútua, e que o conhecimento mútuo transforma gradualmente numa amizade sólida, uma verdadeira sociedade de nações. O povo belga, precisamente um dos que possui um nível de cultura mais elevado, não se contenta em estudar ciência e literatura no seu recanto. Na sua sede sempre insaciável de conhecimento, ele quer conquistar o mundo e consegue, porque sabe apertar os braços musculados da sua inteligência e do seu afeto num abraço amigo e sedutor, em torno de outros povos, por mais distantes que sejam. É assim que os povos ibéricos deste lado e d'além-mar não puderam escapar ao seu forte e leal abraço e se consideram muito felizes por serem o alvo da sua simpatia e interesse.

O povo belga tem razão, vós tendes razão, vós, belgas, que me estais a ouvir: a partir do momento em que a antiga Ibéria atraiu a vossa atenção, não poderiam ficar a meio do caminho. Nesta Península da Europa Ocidental, onde a civilização sempre encontrou as mais poderosas alavancas, existem dois povos: Espanha e Portugal. Dois irmãos criados pelos mesmos pais, e dotados do mesmo heroísmo, que tiveram um destino semelhante, eles representam duas existências políticas independentes, possuindo cada um a livre direção da sua pessoa e a livre administração dos seus bens, como se diz em direito civil. Mas unem-nos laços do mais chegado parentesco, envolvem-nos sentimentos da afeição mais intensa, interesses, sejam de natureza moral ou material, colocam-nos em contacto íntimo.

Foram, num certo momento, os donos do globo e dividiram-no entre si, como se o mundo não fosse mais do que uma saborosa maçã.

Os tempos mudaram, mas continuam a manter a antiga amizade. Fizeram longas viagens, fundaram impérios no Novo Mundo, cada um teve a sua atividade especial, mas mantiveram-se sempre próximos um do outro, estes dois irmãos ibéricos.

Para que vos dê a conhecer o ponto a que chegaram as relações entre as duas nações peninsulares, permitam-me que chame a vossa atenção para este assunto por alguns momentos.

A missão dos povos ibéricos foi cumprida em colaboração. É certo que os portugueses precederam os espanhóis em mais de 70 anos nas viagens e descobertas, mas assim que estes começaram a desenvolver a sua atividade, observou-se sempre uma verdadeira solidariedade entre os dois povos.

João Dias de Solis, um português ao serviço de Espanha, descobriu em 1808 a costa das Honduras e após a morte de Américo Vespúcio foi nomeado Primeiro Piloto. Em 1635, comandou uma expedição espanhola na América do Sul. Foi ele que descobriu o Rio da Prata, primeiramente chamado Rio de Solis, e é do nome La Plata, dado mais tarde a este rio pelos navegadores portugueses, que vem o nome da República Argentina.

Poderia citar vários, mas limitar-me-ei a mencionar um grande navegador muito conhecido, Magalhães, cujo extraordinário empreendimento nasceu, como sabeis, da convicção, aliás partilhada por muitos portugueses, de que as Molucas se encontravam no hemisfério espanhol, isto é, a leste do Meridiano fixado pelo Tratado de Tordesilhas. Mas vários cartógrafos portugueses assinalaram no globo e no mapa, a situação do arquipélago, outros escreveram as instruções a observar durante a viagem, enfim, entre os vinte e nove portugueses que acompanharam Magalhães, estavam os melhores pilotos da expedição, e os 4 navios que atravessaram o estreito eram todos comandados por portugueses. Um dos que ajudou a preparar a expedição, Diogo Ribeiro, foi nomeado cosmógrafo do Imperador Carlos V em 1523.

Foi ainda um português ao serviço de Espanha, Cabrillo, que descobriu a Califórnia em 1543, um outro Gonsalo da Costa quem liderou as explorações dos espanhóis no Rio da Prata. Outro ainda, Pedro Fernandes de Queiroz, que tinha sido piloto principal da frota de Mendafia, navegou no Pacífico e descobriu o arquipélago de Pomotan, o Taiti e as Novas Hébridas.

Mas, se os espanhóis nos devem esta preciosa colaboração, é preciso proclamar que é aos espanhóis sobretudo que Portugal deve a vulgarização em França e na Inglaterra da sua ciência náutica, a mais desenvolvida naquela época.

O manuscrito denominado de Rouen e conservado na Biblioteca Nacional de Paris, não é mais que a tradução literal das Regras Portuguesas, cuja difusão foi feita através da tradução pelo piloto espanhol Pedro de Medina que o denominou "Arte de navigar". Foi também um espanhol, Martin Costes, que divulgou a ciência náutica portuguesa em Inglaterra, através do seu "Breve compendio de la sphera y del arte de navigar". William Bourne, na sua obra "A regiment for the sea", publicada em 1573, inspirou-se no chamado Breve Compêndio reproduzindo os métodos e conhecimentos náuticos dos portugueses.

Mas, se Portugal e Espanha mantiveram, ao lado de muitos outros, as relações que acabo de vos expor, que podemos dizer dos seus irmãos do outro lado do Atlântico, destas jovens e florescentes Repúblicas Americanas, que são, por assim dizer, os documentos vivos da sua poderosa vitalidade, do seu génio colonizador? Onde se encontram uns, os outros nunca poderão faltar:

É graças a esta circunstância que tenho a honra de falar hoje perante vós. É graças a esta circunstância que posso ter o prazer, como Luzíada, de vos cumprimentar cordialmente e mostrar o quão feliz estou por estar entre vós.

Senhor Presidente da "Associación Belgo-Ibero-Americana", manifesto-lhe a minha admiração pela ação plena de inteligência e dedicação que está a desenvolver no sentido da aproximação entre a Bélgica e os países ibero-americanos.

Expresso a minha gratidão pelo amável convite para falar aqui, bem como pelas amáveis ​​palavras que quis por bem dizer sobre a minha palestra.


MINHAS SENHORAS e MEUS SENHORES,

Portugal foi sempre um país de poetas, um viveiro de poetas. Mesmo antes da sua existência como estado independente, e já o é desde o início do século XII, já ali cantavam os poetas. No Norte, eram as canções galegas tão cheias de bucolismo, no Sul, os poemas árabes, cheios de sensualidade, nos quais se destacou o famoso aventureiro Almotamide.

As influências do meio geográfico, isto é, a magia misteriosa do mar desconhecido, a riqueza luxuriante da vegetação, um sol suavizado pela sua passagem através da névoa, imprimiram aos habitantes do extremo ocidental da Península Ibérica características particulares que lhes conferiram uma notável homogeneidade, como se não tratasse de uma só raça a qual não se pode, segundo a opinião dos antropólogos, confundir com qualquer outra.

De entre estas características, uma das mais marcantes reside, sem dúvida, no seu temperamento heróico e lírico, algo idílico.

Cedo se formou uma cultura luso-galaica e quando o rei trovador D. Dinis introduziu em Portugal o Gay Sçavoir da Provença, encontrou na dita cultura um ambiente particularmente favorável ao seu desenvolvimento. Da mesma forma, os contos de cavalaria, cheios de idealização, trazidos para a Península pelos cruzados que iam ajudar a expulsar os muçulmanos e entre os quais se encontravam muitos belgas.

Deste período data esse maravilhoso poema em prosa, Amadis de Gaula, livro que escapou à censura de Dom Quixote e que é um eco perfeito da fase literária conhecida pelo Ciclo da Távola Redonda.

Durante muito tempo discutiu-se a autoria desta obra. Julgou-se sucessivamente que era de um autor francês, de um autor inglês e de um autor castelhano. Foi um grande sábio de literatura espanhol, Menéndez y Pelayo, que afirmou definitivamente que só poderia ser obra de um autor português, chamado Lobeira. Grande conhecedor da literatura portuguesa e do espírito do povo português, observou e afirmou que a personagem Amadis, sendo a mesma que Tristão, Galaaz e Merlim, representa, como todos os tipos que aparecem na história, uma nacionalização completamente portuguesa, porque o sentimentalismo que nela se manifesta, é, de facto, o reflexo da alma popular portuguesa, em que se combinam tão admiravelmente as concepções de amor e honra, heroísmo e lirismo.

A poesia portuguesa evolui no domínio destes dois sentimentos. É o amor que inspira as primeiras composições, simples e ingénuas. No entanto, celebram-se já os esforços heróicos desenvolvidos contra os sarracenos, os inimigos da fé cristã, e a paisagem também contribui para tal.

No século XVI, a poesia, acompanhando o desenvolvimento geral da Nação, atingiu o seu auge. Bernardino Ribeiro, Cristovão Falcão e Diogo Bernardes dão-nos, no bucolismo, obras da mais delicada inspiração. No lirismo amoroso, Sá de Miranda e António Ferreira brilham como estrelas de primeira grandeza, tendo este último sido o autor da Tragédia Castro, traduzida em castelhano com o título de "Nise lastimosa" que obteve uma fama notável. O génio de Gil Vicente criou o teatro na Península, através das suas farsas e tragicomédias. Foi o pai espiritual dos grandes dramaturgos espanhóis.

Mas a missão do povo português foi desdobrada num sentido heróico pelos grandes empreendimentos marítimos. A grande epopeia realizava-se e a poesia dela daria um eco retumbante.

É assim que chegamos a Camões, o maior dos nossos poetas, um dos maiores poetas de todos os tempos, a mais elevada e perfeita encarnação do génio português.

Cavalheiro por temperamento, patriota exaltado, veio precisamente cantar as nossas glórias. Poeta lírico e épico ao mesmo tempo, escreveu o poema da nacionalidade, a epopeia da raça, aliando a ternura e o heroísmo e, possuindo uma das culturas mais completas do seu tempo, soube revestir o trovadorismo e o espírito cavalheiresco da Idade Média com o humanismo do Renascimento, soube adaptar as tradições populares à forma clássica.


Os Lusíadas, a sua obra imortal, fizeram dele o maior de todos os épicos modernos e, se a Divina Comédia contém toda a ciência da Idade Média, Os Lusíadas é o arquivo mais rico e completo da ciência daquela época.

Os Lusíadas são antes de mais a Bíblia da Pátria Portuguesa. Os portugueses leem o poema com um respeito religioso. É a garantia moral e intelectual da nossa independência, da nossa liberdade, da nossa existência no futuro, a garantia da nossa imortalidade enquanto nação.

Os primeiros aviadores que, num voo digno do heroísmo dos nossos antepassados, atravessaram o Atlântico, mandaram pintar a cruz de Cristo nas asas dos seus aviões, a mesma cruz que, durante o nosso século de glória, acompanhou os nossos navegadores nas velas das nossas caravelas, que também levavam consigo um antigo exemplar do poema. Porquê? Porque é ele que reaviva constantemente os sentimentos de nacionalidade dos portugueses, que mantém forte e clara a nossa consciência nacional, a nossa vontade coletiva que nada poderá destruir.

O poema conta a viagem de Vasco da Gama e, a esse propósito, expõe nas mais belas estrofes a história de Portugal.

Não tenho a pretensão, Minhas Senhoras e Meus Senhores, de vos dar um curso de poesia portuguesa. Seria sem dúvida interessante, mas provavelmente cansativo. Resumo, pois, o período que vai de Camões ao Romantismo, dizendo-vos que, durante todo esse tempo, a poesia, sob todas as suas formas, continuou a ser uma fonte abundante da nossa atividade literária. É por isso mesmo que o Romantismo foi recebido com entusiasmo em Portugal. As mentes estavam preparadas para receber as novas concepções literárias que eram tão particularmente dirigidas às nossas antigas tradições, que se identificavam tão perfeitamente com o nosso carácter sensível.

Garrett, o divino Garrett, reuniu os nossos antigos romances de cavalaria no seu Romanceiro, tendo feiro reviver, através dos seus dramas e novelas, os temas tradicionais.

A poesia e a filosofia andam de mãos dadas, e muitos dos nossos poetas participam nestas duas manifestações espirituais: Castilho, Herculano, Antero e outros. É sobretudo em Coimbra, a velha cidade universitária, a Atenas lusitana, a capital da mentalidade portuguesa, a sede da ciência e da arte, a cidade das lendas mais tocantes, que Camões sentiu as suas primeiras emoções líricas, é sobretudo aí que os poetas se inspiram.

A paisagem suave, a que as oliveiras dão o seu cunho de melancolia, o encanto das margens do rio Mondego, orladas de laranjeiras floridas em cujos ramos os rouxinóis - também eles poetas - cantam, na primavera, os seus madrigais, em noites de luar, espiritualizando as coisas, um clima de idílio, de bucolismo, de elegia, tudo isto despertou e desperta para a poesia os espíritos desses jovens estudantes que ali vão doutorar-se. João de Deus, Quental, Junqueiro, Gomes Leal, João Penha, Gonsalves Crespo, António Nobre, Alberto d’Oliveira, Eugenio de Castro, António Feijó e muitos outros receberam em Coimbra as suas primeiras inspirações.

A memória deste último, que a Suécia conservou durante mais de 20 anos enquanto Ministro de Portugal, merece ser aqui evocada. Dotado de uma emotividade singular, desde a juventude revelou as suas tendências poéticas, tornando-se uma nobre figura de artista, mestre do verso e da língua, pois nenhum outro poeta o superou na perfeição da métrica, no relevo da frase, na elegância, na harmonia, na sonoridade, na riqueza das rimas, na graciosidade da cadência. Demonstrou todas as suas qualidades nos livros que publicou, entre os quais se destaca um, justamente considerado uma obra-prima, "Sol d'Hinverno", que contém as suas últimas composições. A maioria dos poemas aí contidos foram escritos sob a impressão do mais profundo sofrimento. Neles colocou todo o seu coração, todo o seu pensamento. É, simultaneamente, um poeta e um filósofo, tendo atingido alturas que só grandes mentes podem alcançar.

Neles sentimos a adoração da vida, a beleza e a alegria, neles sentimos os transportes do amor, mas neles sentimos também a melancolia da solidão, a meditação sobre a morte, a evocação nostálgica da pátria distante.

Descendente de várias gerações de cavaleiros e poetas, entre eles o já referido poeta bucólico Diogo Bernardes, herdou os seus talentos e virtudes. Viveu por amor e morreu por ele! Tendo dedicado à eleita do seu coração todo o afeto de que um coração humano é capaz, não pôde resistir a essa profunda desgraça de a perder para sempre, desgraça que abalou toda a sua alma de poeta. E morreu desse amor de perdição, de que ainda se morre em Portugal.


[2]


MINHAS SENHORAS e MEUS SENHORES

Falei-vos da poesia portuguesa enquanto género literário, mas não posso deixar de vos falar da poesia popular, dessa poesia espontânea e anónima, plena de expressão e de espiritualidade.

Trata-se de pequenas composições, geralmente em quatro versos rimados e bem cadenciados, composições poéticas às quais se adaptam composições musicais, pequenas canções, geralmente espontâneas e anónimas - elas também -, poesia e música encontrando aí perfeita harmonia e cuja essência é sempre o amor, o amor da raça, esse amor que está no nosso sangue e na nossa alma, que se transmite de geração em geração, como uma bênção, amor que, tantas vezes, se apresenta de forma especial que é de facto a idiossincrasia do povo português e que surge nos lábios dos portugueses na palavra, a mais doce de todas, saudade, a qual traduz um prazer e em que há por vezes amargura, uma angústia em que se experimenta algo de delicioso, a nostalgia do passado, já distante, mas cujos lampejos deslumbrantes nos transmitiram através das gerações as suas marcas, o íntimo pesar pela Pátria distante, cujas tribulações e sofrimentos acompanhamos ansiosamente, a memória deliciosamente triste das pessoas queridas, que a morte implacável nos tirou; tudo isto, que se sente na intimidade da sua alma e que em vão se tentaria exprimir de forma justa, a não ser através da palavra mais doce de todas: Saudade.

O temperamento dos portugueses, já o disse e repito com satisfação, sempre foi e, Grande Deus, espero que nunca deixe de ser, essencialmente amoroso, sonhador. E o amor do povo português não é a frase subtil nem o duelo sangrento, mas o amor do coração, o amor sentimental, como o disse o autor de "A Ceia dos Cardeais". Daí advém todo o idealismo, toda a espiritualidade da sua poesia e da sua música populares.

Gostaria muito — e ficaria muito feliz — de vos poder traduzir algumas dessas pequenas composições cantadas no campo pelos camponeses, porque eles são precisamente os grandes fazedores da nossa poesia improvisada, porque é entre eles que melhor se pode descobrir a alma portuguesa em toda a sua ternura, em toda a sua espiritualidade, mas, infelizmente, temo, ao tocar-lhes, de não despojá-los do seu encanto. No entanto, vou apresentar-vos algumas delas, tiradas ao acaso, mas em português, para que tenham uma ideia da cadência e da graça das mesmas, dando-vos de seguida o significado em francês.

Tudo o que era verde seca
Na maior zina do verão;
Tudo o que seca renova,
Só a mocidade não.

Minha filha, se casares,
Toma conselho primeiro;
Mais vale um rapaz sem nada,
Do que um velho com dinheiro.

Eu digo que nas mulheres
A pequenez é um dom;
Uns dizem: do mal o menos;
E outros: pouco, mas bom.

Eu quis fazer um cigarro
P’ra não perder o costume,
E reparei que não tinha
Tabaco, papel nem lume.

Ó Coimbra, ó Coimbra
Que fazes aos estudantes?
Que vão pr'a lá uns anjinhos
E veem de lá uns tratantes?

Quando eu nasci chorava,
Chorava de ter nascido;
Parece que adivinhava
Que estava o mundo perdido.

En quero bem á desgraça
Que sempre me acompanhou,
E quero mal á ventura,
Que tão cedo me deixou.

Tudo que há triste no mundo
Tomara que fôsse meu,
Para ver se tudo junto
Era mais triste do que eu!

Sou casado co’a tristeza,
Irmão da melancolia,
Sou filho de desespêro
E não me é nada a alegria.

Tudo o que era verde seca Na maior zina do verão; Tudo o que seca renova, Só a mocidade não.

Minha filha, se casares, Toma conselho primeiro; Mais vale um rapaz sem nada, Do que um velho com dinheiro.

Eu digo que nas mulheres A pequenez é um dom; Uns dizem: do mal o menos; E outros: pouco, mas bom.

Eu quis fazer um cigarro P’ra não perder o costume, E reparei que não tinha Tabaco, papel nem lume.

Ó Coimbra, ó Coimbra Que fazes aos estudantes? Que vão pr'a lá uns anjinhos E veem de lá uns tratantes?

Quando eu nasci chorava, Chorava de ter nascido; Parece que adivinhava Que estava o mundo perdido.

Eu quero bem á desgraça Que sempre me acompanhou, E quero mal á ventura, Que tão cedo me deixou.

Tudo que há triste no mundo Tomara que fôsse meu, Para ver se tudo junto Era mais triste do que eu!

Sou casado co’a tristeza, Irmão da melancolia, Sou filho de desespêro E não me é nada a alegria.


Ó mar alto, ó mar alto,
Ó mar alto, sem ter fundo!
Mais vale andar no mar alto
Do que nas bôcas do mundo.

A sorte do marinheiro
É de tôdas a mais dura:
Andar sempre a trabalhar
Em cima da sepultura.

O mar tambem é casado,
O mar tambem tem mulher;
É casado com a areia,
Dá-lhe beijos quando quer

Ó mar alto, ó mar alto, Ó mar alto, sem ter fundo! Mais vale andar no mar alto Do que nas bôcas do mundo.

A sorte do marinheiro É de tôdas a mais dura: Andar sempre a trabalhar Em cima da sepultura.

O mar tambem é casado, O mar tambem tem mulher; É casado com a areia, Dá-lhe beijos quando quer

Resta-me, Minhas Senhoras e Meus Senhores, agradecer a amável atenção que se dignaram prestar-me. Faço-o muito cordialmente.

ANVERS, 11 de abril de 1932.

  1. A introdução de J. Rodolfo Lozada foi ocultada porque não sabemos se está no domínio público. As pesquisas realizadas não permitiram concluir se este antigo cônsul em Antuérpia ainda está vivo, ou quando terá falecido.
  2. Neste ponto, o orador pede à Mademoiselle de Maesschalck que tenha a gentileza de ler, como exemplo de poesia portuguesa moderna, uma das mais belas partes de "A Ceia dos Cardeais", do grande poeta Júlio Dantas.

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