Quando vejo que meu destino ordena

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Quando vejo que meu destino ordena
Que, por me exprimentar, de vós me aparte,
Deixando de meu bem tão grande parte,
Que a mesma culpa fica grave pena;

O duro desfavor, que me condena,
Quando por a memoria se reparte,
Endurece os sentidos de tal arte
Que a dor da ausencia fica mais pequena.

Mas como póde ser que na mudança
D'aquillo que mais quero, estê tão fóra
De me não apartar tambem da vida?

Eu refrearei tão aspera esquivança:
Porque mais sentirei partir, Senhora,
Sem sentir muito a pena da partida.