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Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XXII

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Há vários termos no progresso da nossa vaidade: esta no primeiro estado da inocência vive em nós como oculta, e escondida: o tempo faz que ela se mova, e se dilate: semelhante às aves, que nascem todas sem penas, ainda que todas em si trazem a matéria delas. A nossa alma está disposta para receber, e concentrar em si as impressões da vaidade; e esta, que insensivelmente se forma, do que vemos, do que ouvimos, e ainda do que imaginamos, quando cresce em nós, é imperceptível, da mesma sorte, que cresce imperceptivelmente a luz, e que apenas se distingue a elevação das águas. Nascemos sem vaidade, porque nascemos sem uso de razão, nem de discurso; quem dissera, que aquilo, que nos devia defender do mal, é o mesmo que nos conduz a ele, e nos precipita! Todas as paixões dão connosco passos iguais no caminho da vida: logo que vimos ao mundo, começamos a ter ódio, ou amor, tristeza, ou alegria; só a vaidade vem depois, mas dura sempre, e quando se manifesta, é também quando em nós começa a aparecer o entendimento; por isso a emenda da vaidade é tão difícil, porque é erro, em que o entendimento tem parte de algum modo.