Horto (1910)/Rimas

Wikisource, a biblioteca livre

A uma menina que pedia para ler meus versos

Queres meus versos? São tristes,
Talvez te façam chorar...
Ó santa, tu não resistes
Às nuvens de meu penar.

Foge do frio da dor,
Procura o sol do conforto,
Ajoelha sobre o Tabor,
Não venhas rezar no Horto.

Teus olhos são lindos, lindos,
Como noites de verão;
Guardam sorrisos infindos:
Não quero vê-los, ai! não...

Cheios de pranto, pousando
Sobre o meu verso dolente...
Tem pena do fulgor brando
De teu olhar Inocente!


O pranto é que apaga o brilho
Dos olhos de quem padece:
À mãe, quando perde um filho,
No olhar o brilho fenece.

E tu, mimosa criança,
Pomba adorada e franzina,
Em cujo seio a Esperança
Canta a canção mais divina;

Por que procuras o espinho
Da dor que fere, atormenta,
Se o teu sorriso é um ninho
Que a graça eterna acalenta?

Da mágoa o triste segredo
Vens penetrar sem rebuço...
Ah! queres saber bem cedo
Quanto nos custa um soluço!

Ó anjo! foge da dor,
Procura o sol do conforto...
Ajoelha sobre o Tabor,
Não venhas rezar no Horto.