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A MANCENILHA
Lá, no extenso deserto, arido e resequido,
n՚um solo rubro até por um calor ardente,
a mancenilha existe, unica no universo,
qual firme sentinella ameaçadora e ingente.
A essencia especial das planicies sequiosas
desenvolveu-lhe um dia atroz rancor sanhudo:
e o pallido verdor das hastes, e as raizes,
subtilmente embebeu com um veneno agudo.
Pela casca, atravez, gotteja-lhe o veneno,
fundindo-se ao calor que ao meio dia empina,
e pelo anoitecer começa a concretar-se
em forma de uma espessa e limpida resina.
Os tigres fogem della e as aves della fogem.
só o negro turbilhāo, nem sempre em furia alado,
passa sem se deter pela arvore da morte;
mas, quando ao longe vai, vai já envenenado.
Se por acaso, emfim, qualquer errante nuvem
as folhas, ao passar, lhe banha adormecidas,
cai dos seus ramos, já, envenenada chuva,
regando o ardente solo e areias aquecidas.
Mas a esta mancenilha o homem mandou ao homem
n՚um tom imperativo ou c՚ um singelo aceno,
e este pōe-se a caminho ao mandato acurvado,
voltando de manhã com o lethal veneno.
Elle trouxe a mortal, lethifera resina
junta a um ramo tambem de folhas já fanadas,
e um copioso suor na desmaiada fronte
como um rio tombava em torrentes geladas.
Entregou-o e abateu-se, exhausto se deitando
nos canhamos da choça, ou tecto indescriptivel;
e o desgraçado escravo em breve tempo expira
sob o mandato e aos pés do despota invencivel.
E o potentado rei as frechas obedientes
com presteza embebeu deste veneno forte,
e com ellas, depois, entre os extranhos povos,
pelos vizinhos seus disseminou a morte!

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