Sonetos (Antero de Quental, 1880)/Sepultura romantica
Aspeto
SEPULTURA ROMANTICA
Ali, onde o mar quebra, num cachão
Rugidor e monotono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se hade enterrar meu coração.
Queimem-no os sóes da adusta solidão,
Na fornalha do estio, em dias lentos;
Depois, no hinverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o arido chão...
Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpavel pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar...
Com suas lutas, seu cançado anceio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
Desse infecundo, desse amargo mar!