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Ultimo adeos de J. Washington à nação americana

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ULTIMO ADEOS

 
DE
 

J. WASHINGTON

 
 
NAÇÃO AMERICANA ,
 
OU
 
EVANGELHO POLITICO
 
DOS
 
ESTADOS UNIDOS D՚AMERICA.
 
TRADUZIDO
 
POR A. L. Da CUNHA.
 

 
RIO DE JANEIRO
 
Na Imprensa do Diario.
 
1830

AMIGOS E CONCIDADĀOS!

 

Avisinhando-se o tempo , em que ides eleger um cidadāo , que administre o governo executivo dos E. U., e sendo já chegado o de pensar na pessoa , a quem hajais de confiar este cargo importante , parece-me oppurtuno , particularmente podendo conduzir a uma expressāo mais distincta do voto publico , o informar-vos agora da resoluçāo , que tenho formado , de nāo ser um dos candidatos , sobre quem possa recahir a vossa escolha.

Ao mesmo tempo vos peço , que me façais a justiça de crer , que nāo tenho tomado esta resoluçāo sem considerar escrupulosamente todas as obrigaçōes que ligāo um cidadāo , que respeita a sua Patria ; e de que ao retirar a offerta dos meus serviços , offerta , que podia esperar-se na minha situaçāo , nāo sou movido nem pela falta de zelo pelos vossos interesses futuros , nem pela de agradecimento ás vossas bondades passadas , mas sim porque me acho plenamente convencido de que este passo he compativel com ambas as cousas.

Se aceitei , e tenho continuado até agora, no emprego , a que me chamárāo duas vezes os vossos votos , tem sido á custa do duplicado sacrificio das minhas inclinaçōes , á opiniāo do meu dever , e à minha deferencia para o que me ha parecido o vosso desejo. Constantemente tenho esperado , que conformando-me com motivos a que nāo he possivel desattender, poderia voltar muito antes ao retiro , que deixei com repugnancia. A força desta minha inclinaçāo até me tinha levado a formar um discurso para declaralla , antes das ultimas eleiçōes ; porém uma madura reflexāo sobre o estado entāo critico , e duvidoso dos nossos negocios com as naçōes estrangeiras, e o conselho unanime de pessoas que merecem a minha confiança , me moverāo a abandonar este projecto.

Muito folgo que o estado dos vossos negocios internos , e externos , nāo faça já incompativel o preenchimento das minhas inclinaçōes , com o sentimento do meu dever , e do que he conveniente e justo : e qualquer que seja a parcialidade, que possa haver pelos meus serviços , estou persuadido , de que nas actuaes circunstancias da nossa Patria , nāo desaprovareis a minha resoluçāo de retirar-me.

Em occasião oppurtuna , manifestei já as ideas , com que entrei no meu arduo emprego ; agora só direi , que no desempenho deste cargo , tenho trabalhado com boa tençāo , e com os maiores esforços de que he capaz um juizo mui fallivel , para a organisaçāo , e administraçāo do governo. Persuadido desde o principio da inferioridade das minhas luzes , a minha propria experiencia , e talvez mais ainda , a dos outros , tem fortificado os motivos de desconfiar de mim mesmo ; e o peso dos annos , que se augmenta me adverte cada dia mais e mais , que a sombra do retiro me he tāo necessaria como me será agradavel. Igualmente convencido de que , se algumas circunstancias tem dado um preço particular aos meus serviços , estas tem sido sómente temporarias , tenho a consolaçāo de crer , que no tempo , em que me convidāo a deixar o theatro politico a minha inclinaçāo , e a prudencia , nāo se oppōe a isso o patriotismo.

Pensando no momento , que deve pór fim á carreira politica da minha vida , nāo me permitte o meu coraçāo que defira o manifestar abertamente a grande divida de gratidāo , que tenho contrahido para com a minha amada Patria pelas muitas honras que se me tem feito , e ainda mais pela firme confiança , com que me tem sustentado , e pelas occasiōes, que com este motive tenho disfrutado , de dar-lhe a conhecer o meu affecto inalteravel, com serviços leaes e perserverantes, ainda que, em quanto á sua utilidade , inferiores ao meu zelo. Se estes serviços tem produzido algum bem á nossa Patria , seja dito sempre em vosso louvor e como um exemplo instructivo em nossos annáes , que em circunstancias em que as paixōes agitadas em todos os sentidos erāo susceptiveis de extraviar-se; no meio de apparencias ás vezes duvidosas , de revezes da fortuna com frequencia capazes de acobardar ; em occasiōes em que muitas vezes ha favorecido ao máo exito o espirito da critica ; a constancia do vosso auxilio tem sido o apoio essencial dos esforços , e o garante dos planos que tem procurado aquelle bem. Profundamente penetrado desta idéa , ella baixará comigo ao tumulo como um forte incentivo dos desejos perpetuos , de que o Ceo vos continue a dar os melhores testemunhos da sua beneficencia ; de que a vossa uniāo e affecto fraternal sejāo perpetuos ; de que a Constituiçāo livre , obra vossa , seja inviolavelmente guardada ; de que a sua administraçāo em cada um dos seus ramos se distinga pela prudencia e pela virtude ; e em fim de que a felicidade do Povo destes Estados , debaixo dos auspicios da liberdade , seja completada por meio de uma conservaçāo tāo escrupulosa , e de um uso tāo prudente destas ventagens , que alcancem a gloria de recommendallas ao applauso , ao affecto , e á adopçāo de todas as naçōes , que ainda as nāo conhecem.

Talvez devia parar aqui ; porém uma solicitude pela vossa prosperidade que nāo terminará se nāo com a minha vida , e o temor dos perigos tāo natural a esta solicitude , me movem n՚uma occasiāo como esta , a offerecer á vossa solemne comtemplaçāo , e a recomendar ao vosso frequente exame alguns sentimentos que sāo o resultado de muita reflexāo , e de nāo inconsideradas observaçōes ; e que me parecem altamente importantes á permanencia da vossa felicidade como naçāo. Eu vô-los apresentarei com tanta mais franqueza , quanto que sómente vereis nelles , os conselhos desinteressados de um amigo , que se vai , e que nāo póde ter vista alguma pessoal , que torça os seus avisos ; animando-me a dallos a memoria da bondade , e da indulgencia , com que acolhestes os meus sentimentos n՚outra occasiāo nāo mui differente desta.

Estando o vosso amor á liberdade arraigado como está , entre os mais intimos affectos dos vossos coraçōes , nāo se carece de recomendaçāo minha para fortificallo ou confirmallo.

A unidade do Governo que vos constitue um só povo vos agrada agora tambem , e com rasāo , pois he uma columna principal no edificio da vossa verdadeira independencia , e o garante da vossa tranquilidade no interior , da paz exterior , da vossa segurança , da vossa prosperidade , e da propria liberdade que tanto apreciais. Mas como he facil prevêr , que em differentes partes , e por differentes motivos , se farāo muitos esforços , e se empregaráō muitos artificios para diminuir em vós-outros a persuasāo desta verdade ; como este he o ponto da vossa fortaleza politica , contra o qual se dirijiráō mais constante e activamente ( supposto que quasi sempre ás escondidas e de uma maneira insidiosa ) as batarias dos inimigos de dentro , e de fóra , he de uma importancia infinita para a vossa felicidade individual , e colectiva , que estimeis como se deve o valor immenso da vossa Uniāo nacional ; que fomenteis um affecto cordial , constante e imutavel á mesma , a costumando-vos a consideralla e a fallar della como da Salvaguarda da vossa segurança , e prosperidade politica ; velando sobre a sua conservaçāo com um zeloso anhelo , destruindo tudo o que possa sugerir até a suspeita de que se possa vir a abandonalla em nenhum caso ; e olhando com indignaçāo para todo o principio de qualquer tentativa para alienar a menor porçāo do nosso paiz , ou enfraquecer os sagrados vinculos , que reunem agora as suas differentes partes.

A sympathia , e o interesse vos induzem a isto. Cidadāos por nascimento ou por eleiçāo de uma Patria commum , tem esta Patria o direito de concentrar os vossos affectos. O nome de AMERICANOS que vos pertence pelo vosso caracter nacional , deve sempre elevar o nobre orgulho do patriotismo , mais que qualquer outro nome , tomado de distincçōes locaes. Com poucas excepçōes tendes a mesma religiāo , os mesmos costumes , os mesmos usos , e principios politicos. Tendes pelejado , e triunfado juntos em uma causa commum ; e a independencia , e a liberdade , que possuís , sāo a obra de conselhos , e esforços reunidos ; dos perigos , sofrimentos , e successos communs.

Mas por grande que seja a força destas consideraçōes sobre a vossa sensibilidade , nāo he comparavel á que dimana mais evidentemente do vosso interesse , o qual subministra a cada parte do nosso paiz , os mais poderosos motivos para guardar , e conservar com esméro a União do todo.

O Norte n՚um commercio livre com o Sul , e protegido por leis iguaes de um governo commum , acha nas producçōes déste , muito maiores recursos para fomentar as empresas maritimas , e commerciaes ; e materias preciosas para a industria das suas manufacturas. O Sul no mesmo commercio , aproveitando-se da actividade do Norte , vê progredir a sua agricultura ; e estender-se o seu trafico ; e voltando em parte para os seus proprios canáes as embarcaçōes do Norte , adquire vigor a sua navegaçāo particular ; e ao mesmo tempo, que contribue de varios modos para alimentar , e estender a massa total da navegaçāo nacional , concebe esperanças da protecçāo de uma força maritima , para a qual elle só he insuffciente. O Leste em um commercio semilhante com o Oeste encontra já , e augmentando-se cada dia , as communicaçōes interiores por mar, e por terra, achará ainda mais facilmente , uma sabida ventajosa ás mercadorias que traz de fóra , ou que se fabricāo no paiz. O Oeste tira de Leste as provisōes , ê artigos necessarios para a sua prosperidade e conveniencia ; e o que he talvez mais importante ainda , nāo póde disfructar com segurança das sahidas indispensaveis das suas producçōes , se nāo em virtude do peso , influencia , e força naval dos Estados da Uniāo , situados nas costas do Atlantico ; e de ser tudo dirijido por uma comunidade de interesses indessoluveis como he a de uma naçāo. Qualquer outro modo de dar ao Oeste esta ventagem essencial , ou já seja recebida das suas proprias forças isoladas , ou jà de uma uniāo perfida , e contraria á natureza, com outra potencia estrangeira , deve ser intrinsicamente precario.

Ao mesmo tempo que cada parte do nosso paiz sente assim um interesse particular , e imediato na Uniāo , todas ellas combinadas , nāo podem deixar de encontrar na massa unida dos meios e dos esforços , maiores recursos, maior força , e segurança á cerca dos perigos exteriores , e uma interrupçāo menos frequente da sua paz com as nações estrangeiras ; e o que he de um valor inapreciavel , devem tirar da sua Uniāo , o ver-se isemptas das inimisades e guerras entre si, que afligem frequentemente paizes limitrofes , que nāo estāo unidos pelo mesmo governo : inimisades estas que podem ser effeito das suas rivalidades , porém que sāo fomentadas mais fortemente , e aguçadas por affeiçōes , intrigas , e alianças estrangeiras , que se formāo em opposição. Tambem evitarāo deste modo a necessidade dos systemas militares demasiadamente extensos , que debaixo de qualquer forma de governo , sāo funestos á liberdade , e que devem considerar-se como especialmente contrarios á liberdade republicana. Neste sentido deve olhar-se a vossa Uniāo como o apoio principal da vossa liberdade , e o amor a esta , deve fazer-vos igualmente cara a conservaçāo da outra.

Estas consideraçōes fallāo uma linguagem persuasiva a qualquer alma virtuosa que reflexione , fazem ver que a conservaçāo da Uniāo deve ser o objecto primario dos desejos patrioticos. Se se duvida por ventura , que um governo commum possa extender-se a uma esféra tāo grande , deixemos á experiencia a soluçāo deste problema. Em caso semilhaute seria um delicto dar ouvidos sómente á especulaçāo. Estamos authorisados para esperar, que uma organisaçāo regular do Todo , com o auxilio dos governos das respectivas divisōes , darāo ao ensaio um resultado feliz ; e o objecto merece um ensaio sufficiente e de boa fé. Com motivos tāo obvios e poderosos para a uniāo , e até que nāo se veja pela experiencia ser esta impraticavel , teremos rasāo para desconfiar do patriotismo dos que quiserem debilitar em alguma parte os seus vinculos.

Contemplando as causas que podem transtornar a nossa Uniāo , occorre-me como um facto digno de considerar-se , que algum fundamento houve para caracterizar certas partes com distincçōes geograficas ; como as do Norte , as do Sul , as Atlanticas , e as do Oeste ; por cujas distincçōes alguns homens astutos podem fazer crer que existe uma verdadeira differença de vistas , e interesses locaes. Um dos arbitrios de um partido para ganhar a influencia nos districtos particulares , consiste em representar falsamente as opiniōes , e vistas dos outros districtos. Jámais podereis estar bastantemente em guarda contra os zelos , e ciumes , que produzem estas falsas relaçōes ; pois o seu effeito he o fazer estranhos uns aos outros , aquelles , que deveriāo estar unidos com affecto fraternal. Os habitantes do Oeste acabāo de receber uma liçāo instructiva sobre este particular. Na negociaçāo , que fez o poder executivo , e na ratificaçāo unanime do Senado , do tratado com a Hespanha , e na satisfaçāo universal , que causou este acontecimento em todos os E. U. , tem visto uma próva decisiva de quanto erāo sem fundamento as suspeitas , que se propagárão , de que no governo geral , e nos Estades Atlanticos , reinava uma politica contraria aos seus interesses , a respeito do Mississipi. Hāo sido testemunhas de que se tem feito dois tratados , um com a Inglaterra , e outro com Hespanha , que lhes assegurāo quanto podiāo desejar , relativamente ás nossas relaçōes estrangeiras , para confirmar a sua prosperidade. ¿ Nāo será tambem prudente que elles confiem para a conservaçāo destas ventagens na Uniāo que lhas tem proporcionado ? ¿ Nāo serāo elles surdos no futuro aos conselheiros , se os houver , que quizerem separallos dos seus irmāos, e unillos aos estrangeiros ?

Para a efficacia e permanencia da vossa Uniāo he indespensavel um governo para o TODO. Nenhuma alliança entre as partes . por estreita que seja , póde substituir-se áquelle , com bom successo ; pois estas allianças devem inevitavelmente estar sujeitas ás infracçōes , e interrupçōes , que tem experimentado todas as allianças , em todos os tempos. Convencidos desta importante verdade , tendes melhorado o vosso primeiro ensaio , adoptando huma Constituiçāo de governo mais adquada do que a primeira para uma Uniāo intima , e para o manejo efficaz dos vossos interesses communs. Este governo , resultado da nossa eleiçāo , livre da influencia , e dos temores ; adoptado depois de um prolixo exame , e de uma madura deliberaçāo ; perfeitamente livre nos seus principios ; o qual na destribuiçāo dos seus poderes, reune a segurança com a energia , e contém em si mesmo um remedio para ser reformado , este governo , digo , tem um justo direito á vossa confiança , e ao vosso apoio. O respeito á authoridade , a obediencia ás leis , e a conformidade com as suas providencias , taes sāo os deveres que impoem as maximas fundamentaes da verdadeira liberdade. A base dos nossos systemas politicos he o direito do Povo de fazer , e de alterar as constituiçōes do seu governo. Porém a constituiçāo existente em qualquer tempo , he obrigatoria , e sagrada para todos , até que seja derrogada por um acto publico , e authentico de todo o Povo. A idéa mesmo do Poder e do direito do Povo para estabelecer o seu governo, presupōe o dever de cada individuo de obedecer ao governo estabelecido.

Todos os obstaculos , que se oppōe á execuçāo das leis ; todas as reuniōes , e associaçōes , debaixo de qualquer caracter , por plausivel que seja , com o designio verdadeiro de dirigir , regular , oppor-se , e desanimar pelo terror , as deliberaçōes regulares , e as operaçōes das authoridades constituidas , destroem este principio fundamental , e a carretāo funestas consequencias. Servem aquellas para organisar uma facçāo , para dar-lhe uma força artificial , e extraordinaria , para pôr em lugar da vontade delegada da Naçāo a vontade de um partido ; as mais das vezes de uma pequena , porém artificiosa e emprehendedora minoridade do Povo; e segundo os seus triunfos alternativos , para fazer da administraçāo publica mais o instrumento dos projectos incoherentes , e mal concertados da facçāo , do que o orgāo de planos sabios , e bem entendidos , dirijidos por conselhos communs , e modificados por interesses mutuos.

Por mais que as reuniōes ou associaçōes mencionadas possāo servir de vez em quando para os fins populares , podem tambem provavelmente no curso dos acontecimentos chegar a ser umas maquinas poderosas , com que alguns homens astutos , ambiciosos , e sem principios , se ponhāo em estado de arruinar o poder do Povo , e de usurpar o governo , destruindo depois as mesmas maquinas que os tem elevado a um dominio injusto.

Para conservar o vosso governo , e fazer estavel a vossa felicidade presente , he necessario nāo sómente , que desaproveis com firmeza as opposiçōes irregulares á sua authoridade reconhecida ; mas tambem que resistais fortemente ao espirito de inovaçāo sobre os seus principios , por mais especiosos que sejāo os pretextos. Um dos ataques póde ser , intentando alteraçōes nas formas da Constituiçāo , que diminuāo a energia no systema , e minem assim o que nāo se póde derribar directamente. Em todas as alteraçōes a que se vos possa convidar , lembrai-vos de que ao menos se necessita de tempo , e experiencia , para se fixar o verdadeiro caracter dos governos , assim como para as demais instituiçōes humanas; que esta experiencia he a melhor pedra de toque em que se póde ensaiar a verdadeira tendencia da constituiçāo existente de um paiz; que a facilidade de fazer alterações pela influencia sómente de méra hypothese , e opiniāo , expōe a alteraçōes perpetuas , por causa da infinita variedade das hypotheses , e das opiniōes ; e lembrai-vos sobre tudo de que , para o manejo efficaz dos vossos interesses communs n՚um paiz tāo extenso como o nosso , he indespensavel um governo tāo vigoroso , como seja compativel com a segurança perfeita da liberdade. A Liberdade mesma achará neste governo o seu mais seguro protector , estando os poderes devidamente distribuidos, e regulados. Na verdade , ella he pouco mais que um nome , onde o governo he demasiadamente fraco para resistir ás empresas das facçōes , para conter a cada um dos membros da sociedade dentro nos limites prescritos pelas leis , e para manter a todos n՚um estado que disfrutem com segurança , e paz , dos direitos das suas pessoas , e propriedades.

Já vos tenho feito ver quāo perigosos sāo os partidas no Estado debaixo da méra hypothese de se fundarem em distincçōes geograficas. Permitta-se-me agora dirijir uma vista mais extensa , e advertir-vos da maneira a mais solemne contra os effeitos venenosos do espirito de partido em geral.

Desgraçadamente este espirito he inseparavel da nossa natureza , pois tem as suas raizes nas paixões mais violentas do homem. Debaixo de diversas formas encontra-se em todos os governos , mais ou menos occulto , governado ou reprimido ; porém nos populares , apparece com maior força , e he com effeito o seu maior inimigo.

A dominaçāo alternativa de uma facçāo sobre outra , aguçada pelo espirito de vingança , nathral ás dissençōes de partido , que em varios seculos , e paizes, tem cometido os crimes mais enormes , e horrorosos , he por si mesma um espantoso despotismo. Porém este conduz a final a outro despotismo mais regular , e permanente. As desordens , e miserias , que acarreta , inclināo pouco a pouco os homens a buscar a segurança, e o repouso no poder absoluto de um individuo ; e tarde ou cedo o chefe de uma facçāo dominante , mais déstro ou mais ditoso que os seus competidores, converte esta tendencia para os fins da sua propria elevaçāo sobre as ruinas da liberdade publica.

Sem augurar já extremos desta natureza (o que sem embargo nāo deve perder . se de vista inteiramente] , os males communs e continuos do espirito de partido sāo bastantes, para que um Povo prudente conheça , quanto o interessa , e he do seu dever enfraquecello , e restringillo. Sempre serve para dividir os conselhos publicos e para debilitar a administraçāo ; agita o Povo com zelos sem fundamento , e com rebates falsos ; acende a animosidade de um partido contra o outro ; ás vezes fomenta os tumultos , e as insurreiçōes ; abre as portas á corrupçāo , e á influencia estrangeira , que achão um accesso mais facil , até o mesmo governo , por meio das paixões de partido. Assim a politica , e a vontade de um paiz se vem sujeitas á politica , e á vontade de outro. Ha uma opiniāo de que nos paizes livres , os partidos sāo uns freios uteis á administração do governo , e servem para manter em todo o seu vigor o espirito de liberdade. He provavel isto seja verdadeiro até um certo ponto; e nos governos de caracter monarquico póde o patriotismo olhar para o espirito de partido , se nāo com olhos favoraveis , ao menos com indulgentes. Porém nos de um caracter popular , nos governos meramente electivos , nāo se deve fomentar este espirito. Pela sua tendencia natural , nāo ha duvida que sempre haverá nelles o sufficiente para todos os fins saudaveis. E como ha um perigo constante no excesso , os nosses esforços devem dirijir-se a mitigallo e calmallo por meio da opiniāo pública. Um fogo que nāo se pòde apagar exija um disvélo constante para precaver que rompa em lavaredas , e que em lugar de aquentar , consuma , e aniquile.

Tambem he importante , que o modo de pensar de um paiz livre inspire precauçāo aos que estão encarregados do seu governo , para que se contenhāo dentro das suas respectivas esféras constitucionaes , evitando no exercicio dos poderes de um departamento a usurpaçāo dos de outro ; pois o espirito de usurpaçāo inclina a reunir os poderes de todos os departamentos n՚um só , e a criar assim , qualquer que seja a forma de governo , um verdadeiro despotismo. O justo apreço do amor ao poder , e da inclinaçāo a abuzar delle, que predomināo no coração do homem, he bastante para convencer-nos da verdade desta asserçāo. A necessidade de contrapesos reciprocos no exercicio do poder publico , dividindo o , e distribuindo-o em varios depositarios , e constituindo a cada um destes guarda da salvaçāo publica contra as invasōes dos outros , esta necessidade está demonstrada por factos antigos , e modernos , alguns delles no nosso paiz e aos nossos proprios olhos. Conservallos he tāo preciso como constituillos. Se o Povo julgar , que a distribuiçāo , e a modificaçāo dos poderes constitucionaes nāo he acertada em algum ponto , emende-se pelo modo indicado na Constituiçāo ; porém nāo haja mu- dança pela usurpaçāo ; porque , se bem que esta em algum caso póde ser instrumento do bem , he a arma usual com que se destroem os governos livres. O seu exemplo deve exceder muito em damnos permanentes a qualquer bem transitorio , e particular , que jamais possa produzir o seu uso em tempo algum.

De todas as disposiçōes , e habitos que conduzem á prosperidade politica , sāo bases indespensaveis a religiāo , e a moral. Em vāo pretenderia o tributo do patriotismo aquelle , que se esforçasse em derribar estas duas grandes columnas da felicidade humana ; estes apoios os mais firmes dos deveres do homem , e do cidadāo. O homem meramente politico , assim como o mais piedoso , devem respeitallas , e fomentallas. Um grosso volume nāo poderia conter todas as suas conexōes com a felicidade publica , e privada. Pergunte-se simplesmente , ¿ onde está a segurança da propriedaile , da reputaçāo e da vida , se um sentimento de obrigação religiosa nāo accompanha os juramentos , que são os meios de averiguar os factos nos tribunaes ? — E guardemo-nos de suppôr com demasiada facilidade , que se pode conservar a moral sem religiāo. Por muito que se conceda á influencia de uma educação refinada sabre as almas de uma indole particular , a rasāo e a experiencia nāo nos permittem que esperemos ver reinar a moral nacional , ficando excluidos os principios religiosos.

He substancialmente verdade que a virtude ou a moral he uma móla necessaria aos governos populares ; e com effeito extende-sa esta regra com mais ou menos força a toda a especie de governo livre. ¿ E quem , se for um sincero amigo deste governo , poderá olhar com indifferença para attentados tendentes a abalar os fundamentos do edificio ?

Promovei , pois , as instituiçōes para diffusāo geral das luzes , como um objecto da primeira importancia. A՚ medida que a estructura do governo fortifica a opiniāo publica , he essencial que a opiniāo publica seja illustrada.

Fomentai o credito publico como um manancial importantissimo de força , e de segurança . Um dos meios de conservallo , he fazer delle o menor uso que for possivel , evitando a necessidade das despezas , cultivando a paz ; porém tendo ao mesmo tempo em vista que os gastos feitos oppurtunamente para preparar-se contra o perigo , economizāo frequentemente outros muito maiores para repelillo ; evitando igualmente , que se acumule a divida , nāo sómente com escusar as occasiōes de despezas , mas tambem fazendo vigorosos esforços em tempo de paz para satisfazer as que se tenhāo contrahido em guerras inevitaveis, sem ter a baixeza , de lançar sobre a posteridade o peso , que devemos carregar nós mesmos.

A execuçāo destas maximas pertence aos vossos representantes , mas he necessario que coopere com elles a opiniāo publica. Para facilitar-lhes o desempenho da sua obrigaçāo , he mister que tenhais praticamente na memoria , que para pagar as dividas , deve haver fazenda publica ; que para ter fazenda publica , devem haver contribuiçōes ; que estas nāo se podem imaginar sem que sejāo mais ou menos desagradaveis , e molestas; que o embaraço intrinsíco , e inseparavel da eleiçāo dos objectos das contribuiçōes, cuja eleiçāo he sempre prenhe de difficuldades, deve ser um motivo terminante para interpretar com caudura a conducta do governo , e para approvar e executar as medidas , que este adoptar para ter a fazenda , que em todo o tempo exijem as necessidades publicas.

Observai a boa fé , e a justiça com todas as naçōes ; cultivai a paz , e a harmonia com ellas. A moral , e a religiāo ordenāo esta conducta ; ¿ poderia succeder que nāo a mandasse tambem a boa politica ? ¿ Nāo he obra digna de uma naçāo livre , illustrada, e que em pouco será grande , o dar ao genero humano o exemplo magnanimo , e demasiadamente novo , de um Povo conduzido constantemente pelos mais puros sentimentos de justiça, e de benevolencia ? ¿ Quem póde duvidar , que com o decurso do tempo , e dos acontecimentos , os fructos deste plano compensaráō com interesses , todas as ventagens temporarias , que se abandonem para seguillo com constancia ? ¿ Será possivel que a Providencia nāo tenha unido a felicidade permanente de uma naçāo com a sua virtude ? O ensaio deste plano he recomendado ao menos por todos os sentimentos que enobrecem a natureza humana. Ah!... ¡ e lho fariāo impossivel os seus vicios !.....

Na execuçāo deste plano , nada he mais essencial do que destruir as antipathias permanentes , e inveteradas contra naçōes particulares , e as amisades apaixonadas com outras ; e que em lugar destas , se cultivem os sentimentos justos , e amigaveis para com todas. A naçāo que se confirma por costume no odio ou na amisade contra , ou em favor de outra , está de certo modo escravisada. He escrava do seu odio ou affecto , qualquer dos quaes basta para separalla da vereda do seu dever , e do seu interesse. A antipathia em uma naçāo contra a outra as predispōe a ambas a offender-se a agravar-se , a aproveitar as menores occasiōes de resentimentos , e a ser soberbas , e inflexiveis nos mais leves e casuaes motivos de disputa.

Daqui vem os abalos frequentes , e as contendas porfiadas , virulentas , e cheias de sangue. Instigada a naçao pela malevolencia , e pelo resentimento , inpelle ás vezes o governo para a guerra , contra os melhores calculos da politica. Outras vezes o governo deixa-se levar da propensao geral , adopta por colera o que desapreva a rasao , e faz servir os odios da naçāo para projectos de hostilidade , excitados pelo orgulho , pela ambiçāo , e por outros motivos perniciosos e sinistros. Frequentemente se tem sacrificado assim a paz , e quiçà tambem , a liberdade mesma das naçōes.

Do mesmo modo , a amisade apaixonada de uma naçāo para com outra , causa uma multidāo de males. A sympathia pela naçāo predilecta , que facilita a illusāo de um interesse commum imaginario , em casos em que effectivamente nāo o ha , e que infunde n՚uma as inimisades da outra , faz tomar parte inconsideradamente nas rixas , e guerras da sua amiga , sem justiça , e sem motivos sufficientes. Tambem condúz a conceder á naçāo valida , privilegios , negados a outras , o que he duas vezes prejudicial a naçāo que faz as concessōes , renunciando sem necessidade o que devia conservar , e provocando os zelos , a malevolencia , e as disposiçōes de vingança nas partes a quem tem negado os mesmos privilegios; subministrando aos cidadāos corrompidos , ambiciosos , ou alucinados , que se dedicāo á naçāo predilecta , a facilidade de vender ou sacrificar os interesses do seu proprio paiz sem odio , e mesmo ás vezes com popularidade , mascarando com as apparencias de um sentimento virtuoso de dever , de uma defferencia louvavel á opinião publica , ou de um zelo estimavel pelo bem commum , as vís e insensatas condescendencias da ambiçāo , corrupçāo ou cegueira.

Estas amisades sāo particularmente atterradoras para o patriota verdadeiramente illustrado , e independente , porque abrem mil portas á influencia estrangeira. ¡ Quantas oppurtunidades offerecem , de formar intrigas com as facçōes domesticas , de fazer uso das artes da seducçāo , de estraviar a opiniāo do Povo , e de desencaminhar ou atemorisar os conselhos publicos ! Uma amisade semilhante de uma naçāo pequena ou fraca com outra grande e poderosa, condemna aquella a ser um satelite desta.

Crede-me , concidadāos meus, eu vo-lo peço; os zelos de um Povo livre devem estar sempre álerta contra as artes insidiosas da influencia estrangeira; pois a historia , e a experiencia fazem ver que esta influencia he um dos mais fortes inimigos do governo republicano. Mas para que os zelos sejāo uteis , devem ser imparciaes; do contrario , chegāo a ser o instrumento da mesma influencia , que se deseja evitar , em vez de servir de defensa contra ella. A parcialidade excessiva em favor de uma naçāo estrangeira, e a aversāo excessiva á outra , fazem com que aquelles, que se deixāo arrastrar por ellas, vejāo o perigo só por uma parte , e que se prestem a paliar , e ainda a favorecer as artes da influencia, pela outra. Os verdadeiros patriotas, que podem resistir ás intrigas da naçāo favorita , estāo expostos a fazer-se odiosos , e suspeitos; entretanto que aquelles , que lhe servem de instrumentos, e de ludibrio , usurpāo o applauso e a confiança do Povo , trahindo os seus interesses.

A grande regra da nossa conducta com as naçōes estrangeiras quando se extenderem as nossas relaçōes commerciaes , he o ter com ellas as menores conexōes politicas que for possivel. Cumprāo-se todos os contractos , que tenhamos celebrado , com a maior fidelidade ; porém fiquemos por aqui.

A Europa tem muitos interesses primarios, que ou em nada nos interessāo , ou só mui remotamente. Por essa rasāo deve ella achar-se compromettida em disputas frequentes , cujas causas nos sāo essencialmente estranhas. Por isso seria tambem muito imprudente em nós , o enredar-nos com vinculos artificiosos nas vicissitudes communs da sua politica , ou nas combinaçōes e abalos reciprocos das suas amizades e inimizades.

A nossa situaçāo separada , e distante , nos convida e nos habilita para seguir outro rumo. Se nos conservarmos um só Povo debaixo de um governo vigoroso , nāo está mui remota a época em que poderemos zombar do damno , que se nos procure fazer do exterior ; em que poderemos tomar uma atitude , que faça respeitar escrupulosamente a neutralidade , a que em qualquer tempo nos determinemos ; em que , estando as naçōes belligerantes na impossibilidade de fazerem conquistas no nosso paiz , nāo se aventuraráō facilmente a provocar-nos; e em que finalmente poderemos escolher a paz ou a guerra, segundo nos dictar o nosso interesse , guiado pela justiça.

¿Para que pois abriremos māo de uma situaçāo tão extraordinaria? ¿Para que deixaremos o nosso terreno para contar com o estrangeiro? ¿Para que ligaremos a nossa sorte com a de qualquer parte da Europa , e enredaremos a nossa paz, e a nossa prosperidade nas intrigas da ambiçāo , da competencia , do interesse , do humor , ou do caprixo europeos ?

A nossa verdadeira politica he navegar safos de alianças permanentes com parte alguma do mundo , isto he , até onde nos he permittido por ora fazello; pois nāo se deverá crer, que eu seja capaz de defender a infedillidade aos contratos existentes. Sou de parecer que a maxima , de que a honra he sempre a melhor politica , he tāo applicavel aos negocios publicos como aos privados. Por conseguinte , repito , cumprāo-se aquelles contratos sem tratar-se de illudillos : porém a meu ver nāo he necessario , e seria imprudente extendellos.

Cuidando sempre em ter-nos n՚um pé de defensa respeitavel com estabelecimentos adquados , podemos confiar nos com segurança nas alianças temporarias que exijāo as circunstancias extraordinarias.

A politica , a humanidade , e o interesse recomendāo a harmonia , e um trato liberal com todas as naçōes; porém tambem a nossa politica commercial deverá ser equitativa e imparcial , sem buscar nem conceder favores exclusivos , nem preferencias; consultando o curso natural das cousas ; difundindo , e diversificando por meios suaves os mananciaes do commercio , mas sem forçar nenhum : estabelecendo , para fortificar o trafico mercantil , declarar os direitos dos comerciantes , e habilitar o governo para que os sustente , regras convencionáes com as potencias que estejāo dispostas a fazello , e as melhores que permittāo as circunstancias actuaes , e a opiniāo mutua ; porém temporarias e sujeitas a romperem se ou alterarem-se de tempos a tempos como as circunstancias , e a experiencia o dictarem. Tenha-se constantemente em vista , que he loucura , que uma naçāo espere favores desinteressados da outra ; que deve pagar com uma parte da sua independencia tudo o que aceitar debaixo deste titulo ; que aceitando assim , póde pôr se em situaçāo de ter que dar objectos reaes por favores nominaes , e todavia ver-se accusada de ingratidāo , porque nāo dá mais. Nāo póde haver um erro maior do que o de esperar ou contar com verdadeiros favores de naçāo para com naçāo. Esta he uma illusāo que a experiencia deve curar , e que um justo orgulho deve dissipar.

Ao offerecer-vos, concidadāos meus , estes conselhos de um antigo , e affectuoso amigo , nāo me atrevo a esperar que façāo a impressāo profunda , e duravel que desejo; que sejāo um dique contra a torrente usual das paixōes , nem que obstem a que a nossa naçāo siga a carreira , que até agora tem assignalado o destino das outras. Porém , se posso lisongear-me , que poderáõ produsir algum bem particular ou algum proveito accidental; que de tempos a tempos poderāo apresentar-se á imaginaçāo para moderar a furia do espirito de partido , para advertir-vos contra as desordens das intrigas estrangeiras , e para guardar-vos contra as falacias do falso patriotismo , esta esperança será uma recompensa completa da anciedade que me anima pelo vosso feliz futuro.

Quanto me tenho deixado conduzir no desempenho dos deveres do meu emprego pelos principios , que vos acabo de expôr , vo-lo manifestaráō , assim como a todo o mundo , os archivos publicos, e outros testemunhos da minha conducta. Em quanto a mim , a minha consciencia me assegura , que pelo menos tenho crido , que me tenho deixado guiar por elles.

A՚ cerca da guerra que actualmente existe na Europa , a minha proclamaçāo de 22 de Abril de 1793 he o index do meu plano. Sanccionada aquella medida pelo vosso voto de aprovaçāo, e pelo dos vossos representantes em ambas as Camaras do Congresso , o seu espirito me tem dirijido constantemente , sem que me tenha feito vaciilar nenhuma tentativa para desanimar-me ou desviar-me della. Depois de um exame deliberado com o auxilio das melhores luzes que pude conseguir , fiquei bem persuadido de que , consideradas todas as circunstancias , tinha a nossa Patria um direito de tomar , e estava obrigada pelo seu dever e interesses a tomar uma posiçāo neutral. Tomada esta , resolvi quanto em mim coubesse , mantella com moderaçāo , perserverança , e firmeza.

Nāo he para agora referir em detalhe as consideraçōes concernentes ao direito de ter esta conducta. Sómente direi , que segundo o meu modo de pensar , longe de negarem este direito as potencias belligerantes , ellas o tem admitido virtualmente.

O direito de ter uma conducta neutral póde derivar-se , sem recorrer a outro argumento , da obrigaçāo que impōe a todo o Povo a humanidade e a justiça , sempre que possa obrar com liberdade , de manter inviolavelmente as relaçōes de paz , e de amisade com as demais naçōes.

Os motivos de interesse para seguir esta conducta vale mais deixallos ás vossas proprias reflexōes , e á vossa experiencia. Em quanto a mim o motivo predominante tem sido o procurar ganhar tempo , para que se consolide a nossa Patria , se amadureçāo as suas instituiçōes ainda recentes , e se adiantem sem interrupçāo até o gráo de força e de estabilidade necessarias para que consiga (humanamente fallando) ser senhora da sua fortuna.

Ainda que recordando os incidentes da minha administraçāo nāo me lembra ter cometido nenhum erro de intençāo ; sem embargo conheço demasiadamente os meus defeitos para nāo ter por provavel que haja cometido muitos. Quaesquer que elles sejāo , rogo fervorosamente ao Omnipotente que remedeie ou diminúa os males que possāo causar. Tambem levo comigo a esperança de que jamais cessará a minha Patria de olhar para as minhas faltas com indulgencia ; e que depois de 45 annos da minha vida , consagrados a servilla com zelo e probidade , serāo esquecidos os defeitos da minha capacidade , pois eu mesmo estarei bem cedo na morada do descanço.

Confiado pois na bondade da Patria sobre este , assim como sobre os outros assumptos , e animado pelo ardente amor , tāo natural a um homem que vê nella o seu sólo natalicio , e o de seus pais por muitas geraçōes, ólho já com agradaveis esperanças para o retiro em que me prometto disfrutar o doce , e puro prazer de participar no meio dos meus concidadāos da benigna influencia das boas leis de um governo livre , objecto sempre predilecto do meu coraçāo , e recompensa feliz , segundo me lisongeo , dos nossos cuidados , trabalhos e perigos reciprocos.

 

Estados Unidos 17 de Setembro de 1796.

 
FIM.

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