Vila Rica (Cláudio Manuel da Costa)/Carta dedicatória

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Depois de haver escrito o meu Poema da fundação de Vila Rica, Capital das Minas Gerais, minha Pátria, a quem o deveria eu dedicar mais que a V.Exa.? Há muito que ansiosamente solicito dar ao Mundo um testemunho de agradecimento aos benefícios que tenho recebido da Excelentíssima Casa de Bobadela: este me persuado que o pode ser, se não pelo mais completo, ao menos pelo mais puro: a idade que o ler confessará ingenuamente que não obrou a lisonja, aonde sobressai a verdade. Dirão que adornei de louvores os preclaríssimos nomes de V.Exa. e do Esmo. Sr. Gomes Freire de Andrada, bem digno Irmão, mas poder-se-á conhecer ao mesmo tempo que me deu dilatadíssimo campo um merecimento a todas as luzes sólido, grande e incontestável.

Quem ignora que por quase trinta anos descansaram com felicidade nas mãos dos Exmos. Freires as Minas do Ouro do nosso Portugal? Quem não viu alegres os Povos, satisfeito o Monarca e conseguida em toda a sua extensão a igualdade da justiça por todo este espaço do saudoso governo daqueles Heróis? Podéra produzir muitas provas, se me não sobrasse por todas a mesma diuturnidade dos anos que refiro. Parece que o Rei desejava fazer eternos na proteção destes vassalos, tão apartados do seu trono, aqueles espíritos que tanto apetecia ter ao seu lado: esta foi a maior significação de amor com que distinguiu aos moradores das Minas e este o testemunho maior com que qualificou o conceito que formava dos Excelentíssimos. Freires.

Devera agora arrebatar-me na individual exposição de todas as virtudes de v. exc., no elogio do seu esclarecido sangue, na portentosa série das suas ações: tudo tenho diante dos olhos, tudo me lisongêa por extremo, e me estimula tudo.

Levantara uma nova Epopéia, que fizesse emudecer o rapto dos Mantuanos nos seus Marcelos; mas que posso dizer, se reconheço tão desigual o canto à vista do objeto que concebo! O Mundo me acusaria sempre de diminuto: e eu receberei grande vaidade de acabar com a ponderação deste embaraço este obséquio. Sou

De V. Exa.

Humilde Servo,
Claudio Manuel da Costa