Dicionário de Cultura Básica/Darwin
DARWIN (a teoria evolucionista: A Origem das Espécies) → Genética
O evolucionismo cultural é uma teoria que visa explicar a natureza e a diversidade das sociedades humanas como produtos de um processo único de desenvolvimento. Ele está intimamente ligado à doutrina da evolução biológica, que foi uma disciplina fundamental dos estudos antropológicos do século passado. O teorizador mais famoso do Evolucionismo foi o cientista inglês Charles Robert Darwin (1809–1882). Na sua obra Viagem de um naturalista ao redor do mundo (1836), expõe as experiências de uma viagem de cinco anos no barco Beagle, coletando mais de duzentas e trinta toneladas de material animal e vegetal exótico. Mas sua obra mais famosa é A origem das espécies (1859), que escandalizou o mundo da época, sendo execrada por alguns e exaltada por outros estudiosos, que a consideraram a "nova Bíblia". Sua tese fundamental é a seguinte: substituindo a teoria bíblica, chamada de criacionista ou "fixista", segundo a qual as espécies são tantas quantas criadas por Deus, jamais se transformando, Darwin propõe a teoria evolucionista: as espécies animais se derivam uma da outra, mutuamente, conforme a lei da seleção natural, da sobrevivência do mais forte. A tese de Darwin tem como predecessores: 1) Carlos Lineu (1707–1778), botânico sueco, responsável pela classificação das plantas e dos animais em gêneros e espécies; 2) o naturalista francês J.B. de Monet Lamarck (1744–1829) que, em 1809, já tinha exposto sua tese da herança dos caracteres adaptativos adquiridos pelo indivíduo durante a vida, isto é, a transmissão hereditária de caracteres adquiridos pela necessidade do meio ambiente, dando o exemplo famoso da girafa que, de tanto esticar o pescoço para alcançar as folhas no alto, acabou gerando crias de pescoço comprido; 3) também a divulgação da descoberta do frade tcheco Gregor Mendel (1822–1884) de que a hereditariedade é determinada por partículas genéticas serviu para confirmar a tese de Darwin. A polêmica teoria do cientista inglês ainda continua palpitante, tornando-se mais atual pelas recentes pesquisas no campo da genética, especialmente após a descoberta e os estudos realizados acerca do DNA, o código genético de todos os seres vivos. Em maio de 2003, o cientista americano Morris Goodman publicou uma pesquisa, sugerindo que os chimpanzés (Pan troglodytes) fossem incluídos no gênero Homo pois, pela análise comparativa de amostras de DNA humano e de chimpanzés, eles estão mais próximos (99,4% de semelhança) do homem do que de outros primatas como os orangotangos e gorilas.
O Darwinismo Social realiza o salto da Genética para a Antropologia. Herbert Spencer (1820–1903) aproveita a descoberta de Darwin para corroborar sua teoria da "autoregularização" da sociedade. Segundo ele, a sociedade humana, deixada sozinha, se governaria pelo princípio da "sobrevivência do mais forte", que movimentaria a estrutura social na direção de uma crescente coerência, estabilidade e diversidade. Mas, diferentemente do evolucionismo biológico de Darwin, o pensamento sociológico de Spencer é profundamente conservador, prestando-se como sustentação ideológica do Nazismo (→ Hitler). Com efeito, se colocada em prática, a teoria spenceriana levaria a um materialismo mecanicista, de que falava o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588–1679): o homem, conforme a lei cósmica da ação e reação dos corpos em movimento, sofrendo pelo desejo e o temor, é vítima de uma situação de conflito permanente. A guerra é de todos contra todos, sendo o homem lobo do homem (homo homini lupus, como ele dizia).
Mais recentemente, o psicólogo evolucionista Steven Pinker, da Universidade de Harvard, especialmente em suas obras Como a Mente funciona e Tabula Rasa, demonstra que o darwinismo não se aplica apenas ao estudo da Genética, invadindo, além da Biologia, também as áreas das ciências Sociais, da Psicologia e das Artes. Como de outros verdadeiros gênios da humanidade (Leonardo, Freud, Marx, Einstein, Picasso), o pensamento de Darwin se caracteriza pelo poder de "generalização", no sentido de que ultrapassa os limites da disciplina específica e atinge o homem como um todo, apresentando uma nova visão da realidade. O cientista canadense, retomando o espírito do velho Humanismo renascentista, propõe que os princípios da nova psicologia evolucionista sejam aplicados à educação, à política, à arte, à ética, para uma renovação da consciência social, desmistificando doutrinas que se tornaram obsoletas. Assim, por exemplo, a idéia de que o homem é bom por natureza e de que a violência é uma perversão das sociedades modernas, conforme o mito romântico, retomado por indianistas e políticos de esquerda, se esfacela perante o avanço dos estudos genéticos e a descoberta arqueológica da existência de guerras entre tribos primitivas. No tocante o gosto estético, Pinker dá a entender que o conceito de beleza é continuamente manipulado pela evolução modernista, via marketing, pois a descoberta sobre o funcionamento da mente humana nos demonstra que o ser humano, instintivamente, busca o inteligível, que se encontra na harmonia das formas, e não no incompreensível, no hermético. A concepção de beleza clássica, conforme a tradição greco-romana e renascentista, portanto, passaria a adquirir o estatuto de uma verdade científica. Também as correntes radicais do feminismo, que não admitem nenhuma diferença entre a psicologia do homem e da mulher, são contestadas pelo cientista canadense. Conforme recentes pesquisas da neurociência, o cérebro feminino e o masculino têm configurações diferentes. Em face da comprovação da biodiversidade, por que a mulher se esforça tanto de ser igual ao homem? Diferença não quer dizer inferioridade!