Dicionário de Cultura Básica/Jerusalém
JERUSALÉM (a Cidade Santa de judeus, cristãos e muçulmanos) → Cruzadas → Bíblia
Etimologicamente, Jerusalém significa "fundamento de Shalem", uma divindade originária da terra de Canaã, onde se instalaram os hebreus nos séc. XIII a C., correspondente, aproximadamente, à atual Palestina. Durante o reinado de Davi (→ Bíblia), passado o primeiro milênio, Jerusalém se tornou a capital do reino de Judá, sendo construído em seus muros o Templo de Salomão. Ao longo do séc. VI, a Cidade e o Templo foram destruídos por Nabucodonosor e reconstruídos sob o império persa. Após várias disputas entre povos rivais dos judeus, Jerusalém foi arrasada pelo império romano, em 70 d.C. Reergueu-se no período bizantino como metrópole da religião católica (→ Cristo) mas, em 638, foi ocupada pelos árabes, tornando-se cidade santa do Islamismo (→ Maomé). Na época das Cruzadas (séc. XII e XIII), a cidade santa voltou a ser cristã, por mais duas vezes. De 1260 a 1517, foi dominada pelos mamelucos e, em seguida, pelo império otomano, que governou em Jerusalém até 1917. Na medida em que o Cristianismo ia perdendo sua força no Oriente Médio, as comunidades judaicas começaram a retornar para Jerusalém, lutando bravamente contra os muçulmanos. Jerusalém, já capital da Palestina, passou para o poder britânico, em 1922. Finalmente, em 15 de maio de 1948, apoiados numa resolução da Assembléia Geral da ONU do ano anterior, que destinava aos judeus um território de 12 mil quilômetros quadrados ao redor de Jerusalém, proclamada cidade internacional e dividida em duas partes (zona israelense e jordaniana), os descendentes do bíblico patriarca Abraão, após dois milênios de diáspora a que os castigou o Império Romano, voltaram a ter uma pátria. Mas as sangrentas lutas entre judeus e muçulmanos não pararam: rechaçando o ataque árabe na Guerra dos Seis Dias (de 5 a 10 de junho de 1967), os judeus anexaram outros territórios e Jerusalém, reunificada, foi proclamada capital do Estado de Israel, em 1980, acabando com o Estado da Palestina. As três civilizações (judaica, cristã e muçulmana), que se sucederam e, várias vezes, se cruzaram, deixaram na cidade de Jerusalém, cada qual, suas marcas. Historiadores, estudiosos das religiões e das artes ou simples turistas visitam constantemente a Cidade Santa para admirar o "Muro das Lamentações" (construído na época romana), a igreja do "Santo Sepulcro", a "Cúpula do Rochedo" (o monumento islâmico mais antigo) e outras igrejas e mesquitas, além do Museu Nacional de Israel, construído em 1965. A Cidade Santa é a fonte perene de inspiração para poetas e artistas. Lembramos apenas a Jerusalém Libertada do poeta italiano Torquato Tasso. Trata-se de um poema épico-cavaleiresco, que tem como fundo histórico a primeira cruzada dos cristãos para a libertação da Cidade Santa do domínio dos infiéis, no fim do século XI. Mas a guerra entre cristãos e muçulmanos é apenas um pretexto para o poeta cantar os amores aventurosos das duplas Rinaldo-Armida e Tancredi-Clorinda. Esta obra, terminada em 1575, já na época do Barroco italiano, espelha o clima austero da Contra-Reforma. O poeta, de constituição doentia e de sensibilidade melancólica, exprime artisticamente o contraste entre a força da paixão amorosa e o medo do pecado, tendo como pano de fundo a cidade de Jerusalém com sua problemática étnica e religiosa.