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Memórias de um pobre diabo/Terceira Parte - Capítulo 20

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—Boa noite, Simphoriano!

—Ah!... Sê bem vindo.

—Deus te pague. O que fazes?

—Nada; estou lendo.

—A Historia de Cezar, por Napoleão?

—Leio Humboldt.

—Perdes o tempo: Humboldt não sabia nada, foi um pessimo copista de Plinio.

—Sim? quando leste Plinio?

—Nunca, e nem Humboldt e nem precisava para formar o meu juizo.

—Achaste a pedra philosophal?

—Nem nada. Ouvi dizer que Plinio estudava a natureza; depois me disseram que o mesmo fez Humboldt. Logo, tudo quanto este fez copiou do outro, isto é logico. Seja lá no que fôr, segue este methodo e farás figura, passando por sabio. Ideias associadas, Humboldt foi barão e o Sr. Joaquim tambem já o-é. E, passando a inscrever o nome na nobiliarchia deste Imperio, julgou-se com direito de enviar um epigramma á graça á qual não sacrificarei mais, o que te participo, sob a condição de uma hospedagem por esta noite, senão vou dormir ao relento.

E narrei o succedido.

Simphoriano pulou de contentamento.

Fallou em regeneração (palavrinha a mais elastica dos tempos modernos), citando todos os moralistas das cinco partes do globo, inclusive um poeta de nome Sadi ou Saadi, que elle jurou ser perso e eu suppunha italiano, por acabar o nome em—i.

Prasmou contra o meu passado aconselhando-me a cuidar do futuro.

—Vejo por ahi muitos futuros á feição do meu desejo, mas os homens não me protegem.

—Homem, sentenciou o meu amigo, é aquelle que é o que quer ser e não o que os outros querem que elle seja. Toma nota disto. Arrima-te na perseverança; faze della bastão e caminha. Caminha... e se encontrares obstaculos, que te empeçam os passos, desanda-lhes a perseverança. Tornam a apparecer adiante? torna a dar. Dá, dá de rijo, dá a valer, não te doam os pulsos e verás se chegas a ser o que quizeres.

Copiei a receita para matar os obstaculos, mas em vez de bastão comprei um guarda sol, que tambem guarda da chuva e serve de bengala sendo preciso.