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Angelus... (1893)

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Ah! lilazes de Angelus harmoniosos,
Neblinas vesperaes, crepusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangencias magoadissimas dos ares...

Serenidades ethereaes d'incensos,
De psalmos evangélicos, sagrados,
Psaltérios, harpas dos Azues immensos,
Névoas de céus espiritualisados.


Angelus fluidos, de luar dormente,
Diaphaneidades e melancolias...
Silencio vago, biblico, pungente
De todas as profundas liturgias.

É nas horas dos Angelus, nas horas
Do claro-escuro emocional aéreo,
Que surges, Flôr do Sol, entre as sonóras
Ondulações e brumas do Mysterio.

Surges, talvez, do fundo de umas éras
De doloroso e turvo labyrintho,
Quando se exgóta o vinho das Chiméras
E os venenos romanticos do absyntho.

Apparéces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos,
Fulgôres flavos de festins flammantes,
Como a Estrella Polar dos Symbolismos.

N'um enlêvo supremo eu sinto, absôrto,
Os teus maravilhosos e exquisitos
Tons sideraes de um astro rubro e morto,
Apagado nos brilhos infinitos.


O teu perfil todo o meu ser esmalta
N'uma auréola immortal de formosuras
E parece que rútilo resalta
De gothicos missaes de illuminuras.

Resalta com a dolencia das Imagens,
Sem a fórma vital, a fórum viva,
Com os segredos da Lua nas paisagens
E a mesma pallidez meditativa.

Nos extases dos mysticos os braços
Abro, tentado da carnal belleza...
E cuido ver, na bruma dos espaços,
De mãos postas, a orar, Santa Thereza!...