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Fabulas de Narizinho/O lobo, a raposa e a ovelha

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O lobo, a raposa e a ovelha


Adoecera o lobo e, não podendo caçar, curtia na cama de palha a maior fome da sua vida. Foi quando lhe appareceu a raposa, a visital-o.

— Bem vinda sejas, comadre! E' o céo que te manda aqui. Estou morrendo de fome e se não me soccorres nesta apertura, adeus lobo!...

— Pois espera ahi que já te arranjo uma rica petisqueira, respondeu a raposa, com uma idéa na cabeça.

Fechou a porta sobre si e tocou para a montanha onde costumavam pastar as ovelhas.

Encontrou logo uma, desgarrada.

— Viva, anjinho ! Que faz por aqui, tão inquieta? Está a tremer...

— E' que me perdi e tremo com medo do lobo.

— Medo ao lobo? Que bobagem é essa? Pois ignora você que o lobo já fez as pazes com o rebanho?

— Que me diz?

— A verdade, filha. Venho de casa delle, onde conversamos longamente. O pobre lobo está na agonia e muito arrependido da guerra que moveu ás ovelhas. Pediu-me que dissesse isto a vocês e as levasse lá, todas, afim de sellarem o pacto da reconciliação.

A ovelhinha ingenua pulou de alegria. Que sossego dali por deante, para ella e as demais companheiras! Que bom viver assim, sem o terror do lobo no coração!

E, enternecida, disse:

— Pois vou eu mesma sellar o accôrdo feliz.

Partiram. A raposa, á frente, condul-a á toca da féra.

Entram. A ovelhinha, ao dar com o lobo estirado no catre, por um triz que não desmaia de medo.

— Vamos, disse a raposa, beije a pata do magnanimo senhor! Abrace-o, menina !

A innocente, vencendo o horror, dirige-se para elle e abraça-o. Neste momento o monstro ferra-lhe o dente, mata-a e come-a.


Muito padecem os bons que julgam os outros por si.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.