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Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 40

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CAPITULO XL
De como appareceu um navio Francez
e ainda me não poude tomar

Oito dias antes da partida para a guerra chegou um navio francez ao porto que existe perto de Ubatuba, chamado Rio de Janeiro pelos portuguezese e Iteron (enseada) pelos indigenas. Desse navio partiu um barco de rumo á nossa taba, afim de mercadejar com os selvagens pimenta, macacos e papagaios. Saltou delle um francez de nome Jacob, que sabia a lingua dos tupinambás e fez o negocio a que vinha.

Pedi aos selvagens que me levassem a bordo do navio; meu dono, porém, recusou-se a isso, allegando que esperava receber mercadorias pelo meu resgate. Insisti que me levassem ao navio, pois meus amigos de lá as tinham comsigo e lh'as dariam.

Recusaram-se ainda, dizendo que aquelles francezes não eram meus amigos.

— Vieram no bote e não te deram nem uma camisa. E' que não fazem caso de ti.

Bem verdade era aquillo! Mas eu insisti novamente:

— Se eu fosse até ao navio grande, lá me dariam roupas.

A isto os selvagens tornaram que o navio não largaria tão cedo e, pois, primeiro iriam á guerra, ficando o resto para a volta.

Quando vi que o bote partia e eu ficava, murmurei commigo:

— O' Deus bondoso, se este bote sae sem me levar d'aqui, certo que perecerei, porque esta gente não é de confiança!

E com esta idéa na cabeça atirei-me ao mar. Os indios foram no meu encalço. Um chegou a pôr-me as mãos. Consegui, porém, safar-me e nadei para o bote até alcançal-o.

Mas os francezes não me deixaram entrar; allegaram que, se contra vontade dos selvagens me recolhessem, levantar-se-iam elles contra os francezes, tornando-se inimigos.

Voltei para a terra muito angustiado, dizendo-me que era bem da vontade de Deus que eu permanecesse na desgraça, pois da minha parte tudo fizera para livrar-me.

Ao alcançar a terra observei que os selvagens se mostraram alegres e gritavam:

— Elle volta!

Logo que sahi á praia fingi-me zangado e disse-lhes:

— Julgaveis acaso, que eu pretendia fugir? Fui ao bote unicamente para dizer aos meus patricios que viessem buscar-me por occasião de voltardes da guerra, e que trouxessem muitas mercadorias para com ellas eu vos presentear.

Isto os agradou muito e todos se mostraram contentes commigo.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.