Página:Histórias diversas (Mml obr0050).pdf/95

Wikisource, a biblioteca livre

Não adicionar a ilustração

NARIZINHO(Continuando.) E sabe o que a Emília fez? De-
safiou o lobo! "Vá lá no sítio comer Dona Benta para ver
o que acontece, seu cara de coruja seca!", disse ela bem no
focinho dele, imagine! Eu, Pedrinho e o Visconde, assim
que vimos o lobo, não quisemos saber de história e trepamos
a uma árvore bem alta. Ele estava com cara de fome velha.
Mas Emília nem se mexeu. Plantou-se diante dele com as
mãozinhas na cintura, a dizer os maiores desaforos que um
lobo ainda ouviu. Até de analfabeto o xingou.

DONA BENTA(Para a Emília.) — Emília, como é que você
faz isso? Nunca devemos ofender os passantes, e principal-
mente um passante perigoso como esse lobo. Por vingança
ele é bem capaz de vir rondar aqui a casa e no mínimo me
apanhar umas galinhas.

EMÍLIA — Pois que venha, é isso mesmo que eu quero. Provo-
quei-o de propósito e já botei o rinoceronte de guarda
na porteira, de chifre armado. Assim que o lobo aparecer
com aquele focinhão e começar a farejar o ar para ver se
tem avó de menina aqui dentro ...

DONA BENTA — Que história é essa de avó de menina?

EMÍLIA — Esse lobo só se alimenta de avós de meninas. Comeu
a avó de Capinha e gostou do petisco.

DONA BENTA — Que bobagem, Emília! Você bem sabe que o
lobo que comeu a avó de Capinha foi morto a machadadas
por um lenhador.