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O SACI
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A menina fez como ele mandava e com muito jeito a garrafa foi introduzida dentro da peneira.

— Agora tire do meu bolso a rolha que tem uma cruz riscada em cima, continuou Pedrinho. Essa mesma. Dê cá.

Pela informação do tio Barnabé, logo que a gente põe a garrafa dentro da peneira o saci por si mesmo entra dentro dela, porque, como todos os filhos das trevas, tem a tendencia de procurar sempre o lugar mais escuro. De modo que Pedrinho o mais que tinha a fazer era arrolhar a garrafa e erguer a peneira. Assim fez, e foi com o ar de vitoria de quem houvesse conquistado um imperio, que levantou no ar a garrafa para examina-la contra a luz.

Mas a garrafa estava tão vazia como antes. Nem sombra de saci dentro...

A menina deu-lhe uma vaia e Pedrinho, muito desapontado, foi contar o caso ao tio Barnabé.

— E´ assim mesmo, explicou o negro velho. Saci na garrafa é invisivel. A gente só sabe que ele está lá dentro quando a gente cai na modorra. Num dia bem quente, quando os olhos da gente começam a piscar de sono, o saci pega a tomar fórma até que fica perfeitamente visivel. E´ desse momento em diante que a gente faz dele o que quer. Guarde a garrafa bem fechada, que garanto que o saci está dentro dela.

Pedrinho voltou para casa orgulhosissimo com a sua façanha.

— O saci está aqui dentro, sim, disse ele a Narizinho. Mas está invisivel, como me explicou tio Barnabé. Para a gente ver o capetinha é preciso cair na modorra — e repetiu á menina tudo o que o negro lhe dissera.