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VIII

A onça


O miado soou de novo, desta vez bem perto, e logo depois surgiu por entre as folhas a cabeça de uma formidavel onça pintada. Era um animal de extrema beleza, quasi tão grande como o tigre de Bengala. Parou; farejou o ar. Depois ergueu os olhos para a arvore. Dando com o menino e o saci lá em cima, soltou um rugido de satisfação, como quem diz: "Achei o meu jantar!" E tentou subir á arvore. Vendo que isso lhe era impossivel, sacudiu o tronco tão violentamente que por um triz Pedrinho não veio abaixo, como se fosse jaca madura. Mas não caiu, e a onça, desanimada, resolveu esperar que ele descesse. Sentou-se nas patas traseiras e ali ficou imovel, só movendo a cauda e passando de quando em quando a lingua pelos beiços.

— Ela é capaz de permanecer nessa posição tres dias e tres noites, disse o saci. Temos que inventar um meio de afugenta-la.

Olhou em redor, examinando as arvores como quem está com uma ideia na cabeça. Depois saltou para a mais proxima e foi de copa em copa até uma que estava cheia de grandes vagens. Escolheu meia duzia das mais secas e voltou para junto do menino.

— Apare nas mãos o pó que vou deixar cair destas vagens, disse ele, abrindo com os dentes uma delas.