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XIII

Novas discussões



TINHAM de esperar a meia-noite, pois só a essa hora os duendes da floresta saem de suas tócas. Para matar o tempo o saci começou a explicar a Pedrinho o que era a vida noturna das matas virgens.

— Você nunca poderá fazer ideia da vida encantada das florestas, disse ele. Porque a floresta tem duas vidas: uma os homens conhecem a vida das plantas que a compõem e a vida dos animais que a povoam...

— Essa nós sabemos, afirmou Pedrinho com a presunção de quem já havia lido alguma coisa da Historia Natural. Tenho em casa varios livros que contam tudo.

— Tudo? repetiu o saci, dando uma risadinha. Os livros dos homens só contam um pedacinho. O que existe na floresta é tanto que não cabe nem num milhão de livros. Basta dizer que para cada inseto seria preciso um livro inteiro para contar toda a vidinha dele. Ora, quantos insetos diferentes ha na floresta? Milhões...

— Você, seu saci duma figa, gosta de fazer pouco na ciencia dos homens. Mas ao menos nós, homens, escrevemos tudo o que sabemos nos livros. Se vocês, sacis, fizessem o mesmo, então sim, poderiam criticar. Mas não fazem. São uns burrinhos analfabetos.

— Nós sabemos de tudo por adivinhação. Já nascemos sabendo e não temos necessidade de andar lendo em livros