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O SACI
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— E tia Nastacia?

— Tambem é bela por dentro, apesar da pretura de fora.

— E os sacis, de que partido são?

— Dos dois. A´s vezes trabalhamos para a Iára, ás vezes trabalhamos para a Cuca, conforme os interesses do momento. Somos “oportunistas”, disse ele fazendo a mais brejeira das carinhas.

— E você, pessoalmente? indagou Pedrinho.

— Eu sou da Iára desde que nasci. Nunca mudei. Implico-me com a Cuca. Tenho-lhe odio. Mas a senhora Iára nem sequer me conhece. Essas rainhas governam a gente sem dar a menor satisfação. Obrigam-nos a fazer isto ou aquilo sem dizer os motivos, de modo que vivemos aqui tal qual os homens vivem lá entre eles.

— Isso, não! protestou Pedrinho. Nós homens só fazemos o que queremos e sabemos o que queremos.

O saci deu uma risada gostosa.

— Bobagem, Pedrinho. Quando um rei de vocês manda milhares de homens para a guerra, esses coitados morrem mortes horriveis sem saber por que, nem como. Os pobres homens são joguetes dos reis do mesmo modo que nós aqui somos joguetes das duas rainhas. A gente pensa que sabe, mas não sabe nada. Homens e bichos somos todos uns idiotas.

Pedrinho ficou um tanto atrapalhado com aquela opinião, e sem coragem de protestar. Quem sabe se não era assim mesmo? Iria perguntar a dona Benta quando voltasse para casa.

— Os casos de encantamento que se dão entre os homens, continuou o saci, os que são virados em lobishomens ou em pedras ou em planta não passam de artimanhas das