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XVIII

O urutáu


E’ uma ave noturna que geme uns gemidos tão lamentosos que não ha quem não se impressione. Tem a cabeça larga e chata, olhos vivos e a maior boca que se conhece, boca que se abre até aos olhos.

De côr parda, com pequenas listas mais escuras. A côr das suas penas permite que de tal maneira o Urutáu se confunda com a casca do galho onde pousa, que se torna muito dificil de ser caçado. Mas quando o caçador o percebe, então nada mais facil, porque o Urutáu nunca se defende dos tiros. Deixa que o caçador se aproxime e durma na pontaria. E se o primeiro tiro erra, ele não foge. Apenas encolhe-se, continuando quietinho no mesmo lugar.

— Que exquisitice! exclamou Pedrinho. Mas que outras coisas faz ele?

— Nada. O coitado não faz nada. Toda a fama lhe vem do seu canto triste. Tão triste e plangente é esse canto, que transtorna a cabeça dos que o ouvem. Cria o medo — e o medo por sua vez cria uma porção de coisas. Uns dizem que o Urutáu é alma